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Reinaldo Azevedo

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Fim do foro privilegiado já, mas também para membros do Supremo!

Apresentarei minha proposta aos movimentos de rua, mas acho que não abraçarão tamanha ousadia; deputados e senadores são alvos mais fáceis na luta pelo bem

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 30 jul 2020, 21h01 - Publicado em 17 fev 2017, 17h21
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    Eu tenho uma proposta para tornar o Brasil mais justo e transparente.

    E vocês verão que só mesmo os que apostam na impunidade a ela se oporão. Mais: atende também ao princípio da igualdade e da isonomia. É claro que nesses tempos em que parte dos parlamentares tem medo de ser denunciada por Rodrigo Janot, parte nem sabe o que faz lá, e parte é covarde, dificilmente encontrarei alguém para adotar a proposta. Mas sou otimista e sei que, se eu fizer como Diógenes e acender a lamparina, encontrarei parlamentares corajosos. Diógenes procurava os honestos. Quem sabe eu esbarre em ambos.

    Também enviarei meu texto ao Vem Pra Rua, ao Movimento Brasil Livre e ao Nas Ruas (não mandarei para A Loura do Banheiro…) para ver se eles topam, embora eu desconfie que a radicalidade da minha ideia possa afastar os moderados. Pode ser. Afinal, com algum apelo poético, eles podem concluir que “o amor [pelo Brasil] é o sol dos que se prezam”. Antes da proposta propriamente, informações necessárias.

    Roberto Barroso, a fina flor do esquerdismo jurídico, resolveu se ajoelhar aos pés da virtude da “direita” e defender, com um método de esquerda (o golpe de tapetão), a mudança do foro especial por prerrogativa de função. Aproveitando-se de uma simples ação penal, o doutor vai propor aos colegas uma “interpretação restritiva” do que vai na Constituição.

    Ele quer — e eu até concordo no mérito —, por exemplo, que pessoas processadas em primeira instância que se tornem, depois, parlamentares, na primeira instância continuem. E também que crimes não relacionados à função parlamentar transitem na Justiça comum. Faz sentido? Há problemas a se discutir mais tarde quando se consideram as solidões morais do Brasil, mas faz, sim!

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    Ocorre que essa mudança só pode ser feita por emenda constitucional, não por decisão cartorial. Mas doutor Barroso, o preferido da imprensa (sua pauta inclui legalizar drogas, legalizar aborto, proibir que se machuque o rabo da vaca… Tudo o que mobiliza parte considerável da “catchiguria”, esmagadoramente de esquerda e afinada com ideias tão substantivas), já está fazendo seu lobby por aí. Seu voto, para todo o Brasil, foi dado no Jornal Nacional. É um novo modo de tomar decisões. Alguns membros de nossa corte se encantaram tanto com as sessões televisionadas que ficam com crise de abstinência sem luzes e holofotes.

    Barroso mesmo, creio, deveria ter direito a um daqueles camarins das grandes divas e divos (sim, a palavra existe) do mundo artístico, com aquele espelho rodeado de luzes. Um astro.

    Fachin

    Leio agora que o ministro Edson Fachin, o mais recente integrante da corte, também resolveu aderir à ideia. Disse que acha, sim, que o Supremo tem de discutir a possibilidade de reduzir o alcance do foro especial. Afirmou, no entanto, não ter a certeza de que isso possa ser feito de forma, digamos, “cartorial” (a expressão é minha). Não entendi onde reside a dúvida do doutor. Considerando que o dispositivo é constitucional, que outra forma haveria?…

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    Sim, a chance de a tese de Barroso — aquele que já legalizou o aborto até o terceiro mês de gestação — prosperar é grande. Em si e de imediato, não vai significar mal nenhum. Será até um bem. O problema é o que virá depois. Atravessada essa linha, qualquer prescrição constitucional estará sob risco e sujeita a “interpretações restritivas”. Salvar-se-ão, olhem lá, as cláusulas pétreas previstas no Artigo 60.

    Princípios

    Eu sou um liberal. O liberalismo supõe alguns princípios que são inegociáveis — ou se é apenas um bosta. Um deles é a igualdade perante a lei. O outro é que, numa democracia, lei não pode ser transgredida para fazer justiça; tem de ser mudada. Outro ainda é que, na relação entre indivíduo e estado, o primeiro é, em princípio, o intocável (habeas corpus), o que vai sendo modulado, aí sim, de acordo com a necessidade, mas sempre de forma pactuada e respeitando-se o contrato social. Querem o quê? Os ditos liberais brasileiros se opõem a que pessoas seviciadas em presídios sejam ressarcidas pelo estado…

    Fascistas de esquerda e de direita não gostam disso.

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    Aliás, o verdadeiro inimigo de um liberal não é a esquerda. Essa é só o avesso do avesso. O verdadeiro inimigo de um liberal é o fascismo de direita. A razão é simples: ele transforma o mel em fel; ele transforma a luta contra o coletivismo estúpido numa espécie de ação miliciana — nem que sejam as milícias de hoje em dia: as do Facebook, às quais se presta reverência bovina.

    A proposta

    Começo na forma de pergunta: por que acabar com o foro especial só para cargos do Executivo (como querem os conservadores que andam a pisar nos astros distraídos)? Por que acabar com o foro especial só para cargos do Legislativo? E O PODER JUDICIÁRIO, QUE É QUEM REALMENTE MANDA NO PAÍS?

    Então os ministros do Supremo que flertam com essa ideia que coloquem o próprio foro especial na mesa. Não vale para ninguém. Mais: é preciso suprimir simplesmente o Artigo 95 da Constituição, que garante a inamovibilidade de juízes, ora bolas! Por que ela existe mesmo? Dizem que é para que o magistrado não seja submetido a pressões. Faz sentido? É claro que faz. Há abusos em penca país afora? Ora, perguntem ao Conselho Nacional de Justiça.

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    Acho que…

    Acho que os movimentos não me seguirão nessa vertigem visionária. É coisa de coroa porra-louca, e um dos apanágios da juventude há de ser, certamente, a prudência.

    “Você está sendo irônico…”

    Eu?

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    Eu não! Um ministro do Supremo decide que chegou a hora de mudar a Constituição de forma cartorial, cassando prerrogativas de outro Poder e se comportando como se valesse pelas duas Casas do Congresso… Diante de tal descalabro, a imprensa não só se cala como aplaude o maluco a dançar sobre a mesa… Os movimentos ditos liberais se calam, em silêncio reverencial. Afinal, seu público talvez não entendesse o debate. E, a esta altura, deve apoiar Barrosão. Então que a massa conduza o Bezerro de Ouro.

    E eu é que estou sendo irônico?

    O novo Iluminismo brasileiro começa eliminando Montesquieu.

    A tal “tripartição do poder”, em tempos de Carnaval, vale menos no que uma alegoria de mão. É só um chavão.

    O chato é que os mais de mil palhaços do salão votam. E já estão votando.

    O Brasil hoje resume várias tragédias. Mas a maior de todas é mesmo a intelectual.

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