“Desde fevereiro de 2019 nós estamos sem dormir”.
A declaração de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que compôs a excelente reportagem de capa de VEJA desta semana – assinada pelos repórteres Reynaldo Turollo Jr., Laísa Dall’Agnol e Sérgio Quintella – mostra o tamanho do abismo institucional que o país chegou já no início do governo Jair Bolsonaro.
Líder da extrema-direita brasileira que desejou rasgar a constituição – e o pacto Republicano de 1988 -, o presidente usou todas as armas para manchar a imagem da corte. Aliás, não só manchar, mas ir minando a imagem do tribunal perante os brasileiros com um projeto de poder autocrático que incluiu inúmeros arroubos contra a toga.
Como muito bem lembrou a carta ao leitor da revista, Bolsonaro chegou a dizer – em frente a uma claque radical que pedia a volta do AI-5, ato da ditadura militar que institucionalizou o fim da democracia – que não cumpriria decisões do STF.
De fevereiro de 2019 para cá, o presidente manteve uma postura extremista e virulenta que colocou o Supremo em total alerta. Por isso, não é estranho que um ministro diga que os magistrados estão sem dormir há exatos 45 meses.
Como também lembrou a revista, o Iluminismo demonstrado por boa parte dos magistrados, que se uniu contra o bolsonarismo radical, salvou o país de entrar novamente no caminho maldito, como definiu Ulysses Guimarães. É como os colegas de toga serão eternamente lembrados por historiadores: eles seguraram a bandeira democrática.
“A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”, também diria o Dr. Constituinte. Pois bem, a sociedade foi o Supremo não o facínora que se sentou na presidência da República.