Investigados na ‘Abin paralela’ xingam e ameaçam ministros do STF
Magistrados Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Dias Toffoli foram alvos de monitoramento ilegal motivado por notícias falsas
O relatório da Polícia Federal (PF) divulgado nesta quinta-feira, 11, sobre o caso da “Abin paralela” que teria operado durante o governo Jair Bolsonaro mostra conversas entre os investigados com ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e menção a uso de violência. Os monitoramentos ilegais feitos sobre Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux tiveram como justificativa um robusto arsenal de notícias falsas.
No dia 12 de agosto, dois servidores membros do núcleo da organização criminosa, Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues, comentaram uma notícia de que Moraes havia afastado o delegado Victor Neves Feitosa Campo da investigação sobre uma tentativa de ataque hacker ao STF.
Rodrigues diz ao chefe “tá ficando f. isso. Esse careca tá merecendo algo a mais”, e ouve como resposta: “só 7.62”. O número é o calibre de um tipo de fuzil. Em resposta a Bormevet, o investigado responde “head shot” (traduzido, do inglês, tiro na cabeça”).
Semanas antes dessa conversa, Rodrigues fez uma busca a pedido de Bormevet de supostos vínculos do ministro com o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, atual número 2 da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Nada foi encontrado.
Em outro diálogo interceptado pela PF, Bormevet envia um abaixo-assinado pedindo o impeachment do ministro. Rodrigues responde que “com esse careca filho da puta só tiro mesmo. Impeachment dele não sai”. O chefe responde dizendo que leu no X (antigo Twitter) que haveria um “rolo” de Moraes com o presidente do PTB em prol da prisão de Roberto Jefferson — detido em outubro de 2022 após atacar agentes da PF com tiros e granadas.
‘Mandar bala para sentar o pau’
Os agentes investigados pela PF fizeram monitoramentos sobre os ministros Luís Roberto Barroso e Luiz Fux por causa de publicações feitas em redes sociais e de um suposto vínculo deles com o Itaú, por causa de um serviço que a empresa Positivo prestou ao TSE.
“A partir de uma publicação no Twitter (hoje, X) sobre urnas eletrônicas e de declarações do perfil ‘Kim Paim’ (blogueiro bolsonarista), Bormevet determinou ao subordinado Giancarlos (Rodrigues) que ‘mandasse bala’ para ‘sentar o pau’ no assessor do ministro Luís Roberto Barroso”, diz o relatório da PF.
O resultado do que a corporação chamou de “ação de desinteligência” foi divulgado em um grupo chamado “Grupo dos malucos”, que fazia a disseminação de notícias falsas em redes sociais. O documento da investigação diz que “o ataque ao ministro Luiz Fux e seus familiares foi realizado por meio dos perfis cooptados pela organização criminosa que serviam como vetores de propagação de informações falsas”.
‘Indicação’ de Toffoli
O monitoramento ilegal sobre Toffoli foi por causa de uma notícia falsa de que o diretor-geral da Polícia Federal do Rio, Paulo Maiurino, seria um apadrinhado do ministro e vinculado ao ex-governador Wilson Witzel. Bormevet pede a Rodrigues que monitore o magistrado para “confirmar” a inverdade partindo da premissa de que o novo delegado era “zero currículo e indicação do Toffoli”.
Maiurino foi da segurança do Supremo durante a presidência de Dias Toffoli. Ele desempenhou funções de segurança tanto em governos do PT quanto do PL e é delegado da PF há 25 anos.
Candidatura na mira
A operação desta quinta-feira e os relatórios que vieram a público fragilizam a pré-candidatura do aliado de Bolsonaro, Alexandre Ramagem. O delegado da PF ensaia disputar a prefeitura do Rio de Janeiro, mas é mencionado no relatório do caso da “Abin paralela” e chefiava o órgão enquanto todos os monitoramentos ilegais foram realizados.