O Brasil é um dos países que mais têm animais de estimação no mundo. Atualmente, são 139,3 milhões de pets no país, entre cães, gatos, aves ornamentais, peixes e outros, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET), também reflexo do período de isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19, em que a procura por bichos domésticos aumentou significativamente, registrando um crescimento de cerca de 50%, de acordo com a ONG Ampara Animal. Destes, a maioria adotados como mostrou a pesquisa Radar Pet da Comissão de Animais de Companhia (Comac), em especial cães, com 33% de aumento e gatos, com 59% – recentemente a ONG Adote um Gatinho bateu a marca de 18 mil gatos doados em São Paulo.
Além da boa ação e da descoberta prazerosa pela companhia desses animais para seus tutores, esse crescimento em adoções representou uma potencialização em alguns setores da economia, além dos mercados específicos de alimentação, saúde e cuidados para pets. Sob o conceito pet friendly, que acabou virando uma forte tendência, áreas como a gastronomia e a hotelaria enxergaram oportunidades de expandir seus negócios já que os “pais” e “mães” de pets os consideram como parte integrante da família, fazem questão que sejam bem recebidos em ambientes preparados para acomodá-los da melhor maneira possível e estão dispostos a pagar mais por isso.
“Já chegamos a fazer uma festa de aniversário para 50 cachorrinhos na loja”, diz Alexandre Barreiro, dono da hamburgueria Meat Downtown, point de hambúrgueres artesanais localizado no bairro dos Jardins, em São Paulo. Ali, todos os pets são muito bem-vindos, em especial cães, já que o lugar é todo inspirado na cadela Princesa, que ele e sua esposa, Renée Garofalo, resgataram de um canil de reprodução, vítima de maus tratos e com câncer. “Ela foi descartada para a adoção, mas fizemos tudo que estava ao nosso alcance para que seu bem-estar”, conta o empresário.
Princesa não só virou estrela da casa como rendeu bons negócios ao dono que, detentor da N2 Extreme Gelato, desenvolveu dois sabores especiais para pets e criou a sorveteria “Bom pra Cachorro”, em que serve petiscos e os gelatos naturais antialérgicos de banana e melancia para os peludos. “Isso atraiu uma verdadeira legião de ‘amiguinhos’. São eles que levam seus tutores para conhecer”, diverte-se Barreiro, que teve seu complexo gastronômico indicado como um dos melhores locais do gênero pelo Guia Pet Friendly.
Ambiente, Comida e Entretenimento
Nos restaurantes mais tradicionais os pets também tem vez. No italiano Nonna Rosa, por exemplo, a área para acomodar cães, antes restrita apenas à varanda, foi ampliada. “Nós vimos crescer muito, principalmente após a pandemia. Decidimos então montar a área de parklet, com mais 20 lugares para recebê-los. Aumentou nosso faturamento e trouxe esse novo público que não quer abrir mão de seu pet nem na hora de comer”, diz Marcelo Muniz, sócio do Nonna Rosa, que passou também a oferecer água e petiscos aos animais.
Outro restaurante badalado que aderiu ao pet friendly é o mediterrâneo Sky Hall Garden Bar, que todo mês realiza o Pet Brunch, evento em que tutores e seus pets tem serviço de bar e buffet para ambos, sendo que os animais são servidos com pratos especiais de carne, frango e legumes, preparados pelo próprio chef Martin Casilli. “Começamos em julho de 2022 no Sky Hall Terrace e já estamos na 4ª edição. É um sucesso”, conta. “Além de comidinhas saudáveis e sem tempero para os bichinhos, temos brinquedos, tapetes higiênicos, água e até um artista contratado para entretê-los”, completa.
Ceias Especiais
O premiado Jacarandá, do chef Rodrigo Aguiar, é outro restaurante que aposta no ambiente pet friendly com menu de petiscos de carne, frango e salmão à vontade. “Várias pessoas compraram as ceias de Natal e Ano Novo para que tutores possam comemorar as festas com os bichinhos”, conta Ariel Freitas, sócio do lugar em São Paulo. Segundo ele, 20% das reservas são de clientes que levarão seus pets nas confraternizações.
No Rio de Janeiro, o Origens, comandado pelo chef Flavio Bezerra, também receberá os animais para as ceias de final de ano no jardim do hotel Radisson, na Barra da Tijuca, onde fica localizado. No cardápio especial para os bichos, terrine de fígado de frango, risoto de frango com legumes, e vísceras e sorvete de banana com iogurte natural. “O Natal simboliza a união das famílias e para muitos hóspedes, os animais de estimação são membros. Em respeito a eles, preparamos um menu pet para a ceia de natal”, diz Pollyana Mendes, gerente geral do Radisson Barra.
Luxo nos Hotéis
Além das festas, a época é de férias, o que faz com que os hotéis também levem em consideração o bem-estar dos animais de estimação. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Booking.com, colocar as necessidades dos pets em primeiro lugar ao escolher um destino, hospedagem e passeios é uma tendência, com 59% dos entrevistados afirmando que estão dispostos a pagar mais por uma acomodação pet friendly. Dado confirmado por um levantamento da analytics Decod, que concluiu que a busca pelo termo “hotel pet friendly” na internet aumentou 238% na hora de realizar uma reserva online.
Ou seja, é um mercado em ascensão exponencial, que virou até pauta na última reunião do Conselho Estadual de Turismo de São Paulo e, segundo a Comissão de Animais de Companhia (Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), deve atingir um faturamento de US$ 350 bilhões até 2027.
Em São Paulo, o Rosewood é um dos exemplos de como o setor hoteleiro anda se preparando para seus hóspedes pets. Localizado na antiga Maternidade Matarazzo, recebe animais de todos os tamanhos e espécies com um serviço exclusivo de cuidados durante toda a estadia e equipe treinada para lidar com as necessidades dos animais. Além da “bebida” de boas-vindas, os bichos têm acesso a caminhas, potes para água e ração, garrafinha de água, tapete higiênico e outras amenidades. Também há menu de refeições com opções variadas de proteínas, como frango orgânico, salmão e hamburger de wagyu, além de vegetais de guarnição e snacks com opções caninas e felinas. O valor por pet é R$ 450, independente do número de diárias do tutor.
O luxuoso Palácio Tangará também viu seu negócio crescer com a procura por tutures e seus animais. Tanto que recentemente aumentou os quartos pet friendly de quatro para oito, com adaptações que vão desde o piso antialérgico especial para receber os animais até caminhas no mesmo padrão do quarto, com lençol bordado com o nome do pet e potes de cerâmica para água e refeições, que podem ser servidas no quarto ou na área externa do restaurante do hotel. Composta por duas opções de proteína grelhada, legumes ao vapor e arroz, elas saem por um adicional de R$40,00. Já o valor da estadia pet é de R$350,00 cobrados a mais no valor da diária do apartamento.
“Cada vez mais recebemos hóspedes acompanhados por seus bichinhos”, diz Marcos Paulo, gerente de marketing do BA’RA, em João Pessoa, na Paraíba. Lá, os animais são tratados pelo nome e logo no check in recebem água de coco como welcome drink e uma lista de lugares pet friendly na cidade. No quarto, caminha estilizada, bebedouro, comedouro e tapete higiênico. As refeições são preparadas pelos chefs dos restaurantes do hotel com duas opções: salmão com batata doce ou carne de cordeiro com inhame, por R$ 35 cada. “O pet é parte da família e suporte emocional para seus tutores. Então faz sentido oferecermos um tratamento a altura para esses momentos importantes que são as viagens a lazer”, completa. O valor da estadia é uma taxa única de R$ 250, independente da estadia dos tutores.