Neste 2º post da série em curso sobre a Prova Brasil, chamo atenção para uma pergunta bem pertinente em ano de eleições municipais: prefeito com dois mandatos, que fica mais tempo no cargo, está associado com melhor desempenho na educação?
Há razões para suspeitar que a reeleição de prefeitos seria benéfica para a educação. E a razão estaria associada à ideia de continuidade administrativa, tanto na Secretaria de Educação quanto nas escolas. Sabemos que, no Brasil, mais da metade dos diretores das escolas são escolhidos pelos prefeitos e quase outra metade são escolhidos por diversos outros critérios. Poucas redes de ensino possuem carreiras próprias para diretores.
Portanto, em tese, seria plausível esperar que a continuidade administrativa pudesse trazer bons resultados. Claro, isso dependeria de a direção estar correta – caso contrário, poderia ser até prejudicial.
Os dados apresentados no relatório produzido pela consultoria IDados não confirmam essa hipótese. Não há qualquer relação entre reeleição de prefeito e desempenho dos alunos. E isso vale para municípios de diferentes tamanhos e para os diferentes níveis de ensino. Esse mesmo fato já havia sido observado no caso da reeleição de governos estaduais.
Ainda que os dados fossem positivos, ou seja, que houvesse uma correlação, essa informação não seria de grande utilidade. Correlações podem existir por diversas razões – podem até sugerir alguma relação entre duas variáveis, mas não oferecem explicações de causa-efeito.
Continuidade administrativa certamente é uma variável importante para qualquer instituição. É possível que, no Brasil, a fragilidade seja mais profunda: falta clareza a respeito do que seja uma escola, qual a sua função, como deve ser dirigida. E também falta clareza a respeito do como uma Secretaria de Educação deva se estruturar para operar uma rede de escolas eficazes.
Os dados da Prova Brasil constituem uma oportunidade para desfazer mitos e suscitar reflexões sobre onde residem nossa dificuldade de promover educação com qualidade.