Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês

Coluna da Lucilia

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Um espaço para discutir bem estar, alimentação saudável e inovação
Continua após publicidade

O tempo das rabanadas

Qual é a sua lembrança que melhor traduz o espírito natalino?

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h37 - Publicado em 17 dez 2021, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Os dias que precedem a véspera de Natal são marcados pela correria habitual desta época do ano. A agitação não costuma dar trégua: sempre falta um presente para comprar, uma lembrancinha original que nos faz peregrinar por lojas, o preparo do peru da ceia. Os compromissos são tantos que chegam a ameaçar o verdadeiro espírito natalino, aquele que depende apenas da reunião da família. Na mesa, nada contra o tender e as comilanças típicas de fim de ano, mas acredito que o resgate da simplicidade natalina encontra na rabanada sua melhor tradução.

    Há receitas que vão muito além do alimento. Elas são responsáveis por sabores e texturas que, mais do que agradar ao paladar, evocam histórias do passado, trazem à tona lembranças de cenas remotas, nos fazem reviver momentos felizes. Cada um, provavelmente, terá um prato que é muito mais do que a soma e a mistura de seus ingredientes. No meu caso, a rabanada ocupa o topo da lista da cozinha efetiva. O perfume doce que emana daquela fatia de pão amanhecido salpicada de canela logo após sair da frigideira me remete à casa dos meus pais, onde a rabanada preparada por minha mãe não podia faltar no Natal. Embora sua receita tenha, misteriosamente, se perdido com o tempo, ficou, para mim, a memória gustativa daquela calda de vinho do Porto que regava generosamente o pão do dia anterior passado no leite e no ovo, e na frigideira. Sem perder a essência da simplicidade, o pãozinho renascia com nova consistência, em versão de gala. Adocicada, com um ou outro item local em sua composição, a rabanada tem equivalentes no mundo inteiro.

    “Há receitas que vão muito além do alimento e nos fazem reviver momentos felizes”

    Os franceses, que costumam usar também o brioche no lugar da baguete, a chamam de pain perdu. Para os americanos, é French toast. Em alguns países da América Latina também prevaleceu a influência francesa no nome. Na Colômbia e no Chile se diz “tostadas francesas”. Na Argentina é torrejas. Os britânicos batizaram a iguaria de eggy bread.

    Para mim, no entanto, as rabanadas têm a ver com a origem da minha família. Foi a partir de Portugal que o prato chegou ao Brasil ainda nos tempos coloniais e já com o nome de rabanada, como se usava ao norte do Rio Mondego, que corta o país ao meio, mais ou menos na altura de Coimbra. Ao sul os portugueses preferiam uma denominação mais descritiva, “fatia dourada”, ou o nome que destacava seu poder nutritivo, “fatia de parida”, como se fala também em Salvador, na Bahia, pois acreditava-se que seria benéfica para a produção do leite materno. Com o tempo, todos aderiram ao termo “rabanada”.

    Continua após a publicidade

    No Brasil, a rabanada se tornou um prato típico do Natal. É uma tradição cujo sentido original se perdeu nas dobras do tempo. É possível, porém, que esteja associada ao valor sagrado que o catolicismo atribui ao pão, alimento citado na Bíblia como metáfora para comida em geral. Jogar fora o pão que não guarda mais as propriedades típicas do produto recém-­saído do forno é um pecado. Crocância não é tudo no pão, e a rabanada está aí para provar. A rabanada traz toda a alma natalina reunida num só alimento. Espero que, neste ano, o ato de servir rabanadas seja um convite para o retorno ao espírito de simplicidade que a data inspira. E que 2021 termine em rabanada para acabarmos todos, entre familiares e entes queridos, envoltos em açúcar, canela e muito afeto. Feliz Natal!

    Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2021, edição nº 2769

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.