Comer mais alimentos ultraprocessados aumenta o risco de desenvolver e morrer de câncer, principalmente o de ovário. É o que mostra um novo estudo publicado na revista eClinicalMedicine, realizado no Reino Unido, com mais de 197 mil pessoas, sendo mais da metade, mulheres.
Leia-se alimentos excessivamente processados como sopas de pacote, molhos, pizza congelada e refeições prontas, bem como cachorros-quentes, salsichas, batatas fritas, refrigerantes, biscoitos e bolachas, bolos, doces, rosquinhas e sorvetes.
“Alimentos ultraprocessados são produzidos com ingredientes derivados industrialmente e geralmente usam aditivos alimentares para ajustar cor, sabor, consistência, textura ou prolongar a vida útil”, disse a Kiara Chang, do National Institute for Health and Care Research da Escola de Saúde Pública do Imperial College London e autora da pesquisa. “Nossos corpos podem não reagir da mesma forma a esses ingredientes e aditivos ultraprocessados como reagem a alimentos frescos e nutritivos minimamente processados”, completou.
As pessoas que comem mais alimentos ultraprocessados também têm a tendência a consumir mais refrigerantes e menos vegetais e outros alimentos ligados a uma alimentação saudável, o que também impacta nesse risco aumentado.
O estudo analisou a associação entre a ingestão de alimentos ultraprocessados e 34 tipos diferentes de câncer durante um período de dez anos. Para isso, os pesquisadores analisaram informações sobre os hábitos alimentares de 197.426 pessoas que faziam parte do UK Biobank, grande banco de dados biomédico para pesquisa no Reino Unido.
De acordo com o levantamento, a quantidade de alimentos ultraprocessados consumidos pelas pessoas no estudo variou de um mínimo de 9,1% a um máximo de 41,4% de sua dieta. E esses padrões alimentares foram comparados com registros médicos que listavam diagnósticos e mortes por câncer.
Cada aumento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados foi associado a um aumento de 2% no desenvolvimento de qualquer tipo de câncer e a um crescimento de 19% no risco de câncer de ovário, segundo nota do Imperial College, de Londres. “Este estudo aumenta a evidência crescente de que os alimentos ultraprocessados provavelmente impactam negativamente nossa saúde, incluindo nosso risco de câncer”, afirmou Eszter Vamos, principal autor do estudo e professor clínico sênior da Escola de Saúde Pública do Imperial College de Londres.
As mortes por câncer também aumentaram, segundo a pesquisa. Para cada aumento adicional de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados, o risco de morrer de qualquer tipo de câncer aumentava em 6%, enquanto o risco de morrer de câncer de ovário aumentava em 30%. “Essas associações persistiram após o ajuste para uma variedade de fatores sociodemográficos, tabagismo, atividade física e principais fatores dietéticos”, escreveram os pesquisadores.
Por ser um estudo observacional, porém, ele não fornece evidências de uma ligação clara entre esses alimentos ultraprocessados e câncer ou o risco de outras doenças. Esse, porém, não é o primeiro estudo que aponta uma associação entre uma alta ingestão de alimentos ultraprocessados e câncer.
Um levantamento em 2022 feito nos Estados Unidos, que avaliou mais de 200 mil homens e mulheres por 28 anos, também encontrou uma ligação entre alimentos ultraprocessados e câncer colorretal em homens, mas não em mulheres. Sem contar as várias pesquisas que associam a ingestão desses alimentos a obesidade, câncer, doenças cardiovasculares e mortalidade em geral.