Mais da metade dos Yanomamis vive em situação de risco de saúde
Levantamento feito com imagens de satélite aponta que mais de 62% do povo indígena vive em áreas ameaçadas
Após a intervenção federal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, no início do ano, todos os olhos se voltaram ao desastre humanitário que estava acontecendo por lá. Agora, estão sendo divulgados os resultados das primeiras análises, que mostram o quão profunda é essa ferida.
Um estudo recente, realizado pelo grupo Geo-Yanomami, composto por especialistas de várias instituições, incluindo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Veiga de Almeida, Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), revela que as ações de garimpo e invasões na Terra Indígena Yanomami afetam 59% dos rios próximos às comunidades indígenas do estado.
O grupo também examinou aproximadamente 25 mil km de extensões de rios dentro do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) da região, concluindo que cerca de 2.000 km têm a presença de indígenas vivendo às suas margens, mas mais da metade (53%) estão potencialmente contaminados, atingindo uma população de 12 mil pessoas.
A conclusão é clara: a degradação ambiental e o mau uso do solo causados pelo garimpo se relacionam diretamente com o aumento dos problemas de saúde dos indígenas nos últimos anos. Entre as principais alterações observadas no Território Yanomami estão as queimadas, com 708 km² de áreas atingidas entre 2017 e 2022 – número quase equivalente à área total do Chile. Além disso, ainda há p efeito do desmatamento e mineração, outras atividades que mais destruíram a floresta em Roraima.
Cruzando dados do relatório Yanomami sob ataque, publicado pela Hutukara Associação Yanomami em abril do ano passado, com imagens de satélite de dezembro, os pesquisadores constataram ainda um aumento de mais de 100 pistas de pouso, sendo pelo menos 38 clandestinas, concentradas ao Norte do Território Yanomami, região onde há maior incidência de ouro.
“Com os resultados produzidos pelo estudo, esperamos auxiliar no planejamento de ações para enfrentar a crise de saúde nas comunidades Yanomami, não apenas em momentos de emergência, como agora, mas também nos próximos anos”, explica Diego Xavier, pesquisador do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz e integrante do grupo Geo-Yanomami. “Essa análise é um passo inicial que precisa ser aprimorado com informações de campo e monitoramento”, completou, sobre a pesquisa, divulgada juntamente com a InfoAmazonia, que utilizou métodos de geoprocessamento e sensoriamento remoto para identificar as áreas mais prejudicadas que ameaçam as 366 comunidades indígenas e seu entorno.