Parecia musical de Hollywood, mas era a vida imitando a arte nas ruas de São Paulo. Em vez de atores do filme La La Land, os protagonistas da cena foram motoristas de aplicativos como Uber e 99. Sem o charme de Emma Stone e Ryan Gosling, eles protestaram contra a ameaça que se armava em Brasília. Muitos deputados e senadores, interessados em afagar os taxistas e os donos das empresas de ônibus, estavam empenhados em aprovar um projeto que, se fosse adiante, poderia inviabilizar a existência dos aplicativos de transporte privado. Um texto que veio da Câmara criava uma série de exigências para a prestação do serviço, entre elas o uso de placas vermelhas, a autorização da prefeitura para rodar e a necessidade de os carros serem licenciados na cidade onde o motorista pega os seus clientes. Na prática, Uber e concorrentes virariam empresas de táxi — com todos os custos e reservas de mercado envolvidos nisso. O texto foi para votação no Senado na terça-feira 31, e, depois de muito embate, os senadores decidiram retirar as medidas restritivas dos deputados. O lobby de última hora contou até mesmo com a visita a Brasília do presidente mundial da Uber, Dara Khosrowshahi, recém-indicado para o cargo. A presença ilustre teve razão de ser: o Uber foi barrado em grandes cidades europeias, como Londres, mas no Brasil vai muito bem, obrigado. São Paulo, por exemplo, ostenta o maior número de viagens diárias do mundo. Esse filme, entretanto, ainda não ganhou um desfecho. O texto do Senado agora volta para a Câmara, onde poderá ser novamente alterado. Haverá, sem dúvida, um final feliz, mas não se sabe para que lado.
Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2017, edição nº 2555