Questões pessoais de saúde e motivos “particulares e familiares”. Foi essa a justificativa dada pelo general da reserva do Exército Fernando Azevedo – que comandou o Ministério da Defesa no governo Bolsonaro – para não assumir mais um posto-chave no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nos próximos dias. Em dezembro, Azevedo foi anunciado como novo diretor-geral do TSE, uma espécie de síndico, responsável por tocar licitações e cuidar de questões administrativas e tecnológicas do tribunal, como as urnas eletrônicas. Azevedo foi convidado para o cargo pelo ministro Alexandre de Moraes, com uma espécie de vacina do TSE para neutralizar ataques do Palácio do Planalto contra a lisura do processo eleitoral. A previsão original era de que assumisse o cargo na próxima semana, coincidindo com o início da presidência do ministro Edson Fachin.
VEJA apurou, no entanto, que na última terça-feira, 15, Azevedo comunicou os ministros Fachin (que comanda o tribunal a partir do próximo dia 22) e Moraes (que presidirá a Corte em agosto) sobre um parecer médico que aponta a “presença de sensíveis questões pessoais de saúde”, além de informar os magistrados sobre “motivos particulares e familiares”. Mesmo assim, integrantes do TSE ainda tentam demovê-lo da ideia de não assumir o posto. De acordo com um ministro ouvido reservadamente pela reportagem, Azevedo sofre de “cardiopatia grave”. O comunicado do general vem na esteira do desgaste provocado por um longo questionário do Exército, pedindo esclarecimentos ao TSE sobre todas as etapas de organização das eleições. O documento foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro como munição contra a Corte.
O martelo sobre a direção-geral do TSE deve ser batido por Fachin na próxima sexta-feira, 18, em reunião no gabinete da vice-presidência do TSE. O ministro admira a história de dedicação e fidelidade à democracia do general, que, na sua visão, possui um longo histórico de serviços prestados à sociedade brasileira. O plano B é manter no cargo o atual diretor-geral, Rui Moreira, que não é militar.
Azevedo já foi assessor especial do Supremo Tribunal Federal (STF) durante a gestão do presidente Dias Toffoli, que buscou na época estreitar as relações com as Forças Armadas em meio à onda bolsonarista que varreu o país nas eleições de 2018. Em agosto daquele ano, na condição de chefe do Estado Maior do Exército, o general Azevedo pregou “tolerância” e “conciliação” nas nas eleições que acabaram vencidas por Bolsonaro.
Ministros do TSE e do STF já demonstram uma séria preocupação com a temperatura política do país não apenas durante a campanha, mas com a reação de Bolsonaro ao resultado que pode sair das urnas. Magistrados estão apreensivos com o risco de o mandatário não reconhecer uma eventual derrota no voto popular.