Em entrevista em setembro do ano passado, VEJA perguntou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como tinha sido a efêmera experiência dele na Presidência da República durante viagem de Michel Temer (PMDB) à cúpula do G20, na China. “Andei no final de semana na praia de São Conrado [Zona Sul do Rio de Janeiro] e um monte de gente quis tirar foto comigo. ‘Presidente, presidente!’, gritavam. Fiquei tanto tempo isolado e agora vivo o outro lado. Penso: ‘Caramba, olha aonde eu cheguei'”.
Com a delação explosiva da JBS e a denúncia da Procuradoria-Geral da República por corrupção, que pode levar ao afastamento de Temer, o entusiasmo dos banhistas cariocas com Maia no Palácio do Planalto chegou com força a alguns setores do Congresso, que veem o democrata como solução à crise política que engolfou o governo.
Veja abaixo dez fatos sobre Maia, que foi de deputado discreto a presidente da Câmara e pode voltar a dizer, em algumas semanas, ainda mais impressionado: “Caramba, olha aonde eu cheguei”.
1) Nascido no exílio
Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia nasceu em Santiago, no Chile, em 12 de junho de 1970, durante o exílio de seu pai, o vereador e ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia. Ele é irmão gêmeo da empresária Daniela Ibarra Epitácio Maia e filho de Mariangeles Ibarra Maia.
Na primeira vez em que se elegeu presidente da Câmara, em julho de 2016, boatos na internet alardeavam que Rodrigo Maia não poderia assumir o comando da Casa por ser chileno, e não brasileiro nato, condição para ocupar o cargo determinada no artigo 12 da Constituição.
O item “c” do inciso I do mesmo artigo prevê, no entanto, que os filhos de brasileiros, mesmo nascidos no exterior, são brasileiros natos, desde que “registrados em repartição brasileira competente”. Maia foi registrado no consulado geral do Brasil na capital chilena no dia 8 de julho de 1970.
2) Ensino superior incompleto
Rodrigo Maia iniciou, em 1989, o curso de Economia na Faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, que ele não concluiu. Trabalhou nos bancos BMG e Icatu entre 1990 e 1997, quando foi convidado pelo então prefeito carioca, Luiz Paulo Conde (PFL), sucessor de Cesar Maia, a ocupar a Secretaria Municipal de Governo.
3) As eleições à Câmara dos Deputados
Em 1998, Rodrigo Maia deixou a Secretaria de Governo carioca, seu primeiro emprego público, para se candidatar a deputado federal pelo PFL. Debutante nas urnas eleitorais aos 28 anos, foi eleito para o primeiro de seus cinco mandatos na Câmara com a 12ª maior votação no estado: 96.385 votos.
Reelegeu-se deputado em 2002 (117.229 votos), 2006 (235.111 votos), 2010 (86.162 votos) e 2014 (53.167 votos).
4) Do PFL ao DEM, passando pelo PTB
Maia seguiu seu pai quando ele trocou o PFL pelo PTB, em 1999, e fez o caminho de volta em 2001, ano em que Cesar Maia foi expulso das fileiras petebistas. Em 2007, com a transformação do PFL em Democratas (DEM), Rodrigo Maia continuou filiado à legenda.
Na entrevista a VEJA em setembro de 2016, o presidente da Câmara declarou que “o PFL carregava o rótulo de ‘partido de coronel’. O DEM, não”.
5) Aliança pragmática e fiasco em 2012
Resultado de um pragmático cálculo político para vencer o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes e o PMDB, a chapa formada por Rodrigo Maia e Clarissa Garotinho, filha do ex-governador Anthony Garotinho, terminou em fiasco nas eleições municipais de 2012. Maia recebeu irrelevantes 95.328 votos dos cariocas, 3% do total, e Paes foi reeleito no primeiro turno.
“Cometi o maior erro político da minha vida: me aliei à família Garotinho. No lugar de somar votos, ganhei rejeições. Virei um candidato inexpressivo. Era como um fantasma perambulando pela cidade”, resumiu Maia a VEJA naquela entrevista.
Durante as eleições de 2014, quando seu pai disputou o governo fluminense, Clarissa Garotinho atacou uma suposta traição dos Maia. Segundo Clarissa, Rodrigo prometeu a ela, em troca da aliança em 2012, apoiar Anthony Garotinho contra o candidato do PMDB no plano estadual. Cesar Maia acabou concorrendo ao Senado na chapa encabeçada pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e não foi eleito.
6) As eleições à Presidência da Câmara
Rodrigo Maia foi eleito presidente da Câmara pela primeira vez, em julho de 2016, para um “mandato-tampão” de seis meses, em substituição ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que naquele mês renunciou ao comando da Casa. Maia recebeu 285 votos no segundo turno, distribuídos entre deputados governistas e oposicionistas, e venceu o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), considerado o favorito do governo do presidente Michel Temer, votado por 170 deputados.
“Quando apareceu a oportunidade de presidir a Casa, não tive problema em ligar para todo mundo: pedi voto à esquerda, à direita, em cima, embaixo. No final, liguei para o Lula para agradecer o fato de ter liberado deputados para votar em mim”, declarou Maia a VEJA.
Com apoio do Palácio do Planalto, a segunda eleição de Maia à presidência da Câmara se deu ainda em primeiro turno. O democrata recebeu 293 votos e venceu Jovair Arantes (PTB-GO, 105 votos), André Figueiredo (PDT-CE, 59 votos), Júlio Delgado (PSB-MG, 10 votos) e Jair Bolsonaro (PSC-RJ, 4 votos).
7) Entre os mais influentes do Congresso
De acordo com o portal da Câmara dos Deputados, em quase 18 anos de atuação na Câmara, Rodrigo Maia figura como autor ou signatário de 788 proposições na Casa (projetos de lei, requerimentos, emendas, entre outros) e foi o relator de 42. Entre os projetos assinados por Maia, quatro viraram leis; entre os relatados por ele, 15 se tornaram normas. O presidente da Câmara está desde 2002 na lista dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso, elaborada anualmente pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
8) ‘Botafogo’ é alvo de três inquéritos
Apelidado como “Botafogo” nas planilhas do departamento de propinas da Odebrecht, em referência ao time pelo qual torce, Rodrigo Maia é alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Duas investigações foram abertas a partir das delações premiadas de executivos da empreiteira baiana: uma apura se ele recebeu 100.000 reais em propina por beneficiar a Odebrecht em medidas provisórias na Câmara, e a outra, se ele e Cesar Maia receberam 950.000 reais em caixa dois da empreiteira nas eleições de 2008 e 2010.
Em um terceiro inquérito, que corre em sigilo no STF, a Polícia Federal afirma que o presidente da Câmara recebeu 1 milhão de reais em propina da OAS, disfarçada em doações eleitorais, em troca da defesa de interesses da empreiteira no Congresso. A investigação da PF concluiu que há “fortes indícios de corrupção passiva e lavagem de dinheiro” por parte de Maia, que nega todas as acusações.
Conforme VEJA revelou, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha prepara anexos sobre Rodrigo Maia em sua delação premida.
9) Doações milionárias e dívida de campanha
Rodrigo Maia recebeu 2,3 milhões de reais em doações eleitorais na eleição de 2014 e gastou 2,9 milhões de reais para se eleger, ou seja, deixou uma dívida de 600.000 reais. Os doadores mais generosos à campanha do democrata, com 2 milhões de reais em contribuições (85% do total), são os seguintes: Banco BMG (550.000 reais), Praiamar Indústria e Comércio (200.000 reais), Avante Veículos (200.000 reais), Antônio José Almeida Carneiro (acionista do Grupo Energisa, 180.000 reais), Ribeira Empreendimentos (138.000 reais), Richard e Andreas Klien (Grupo Santos Brasil, 110.000 reais), JBS (100.000 reais), Coca Cola (100.000 reais), Separ Serviços e Participações (100.000 reais), Revita Engenharia (100.000 reais), Austrália Empreendimentos Imobiliários (75.000 reais), Itaú (50.000 reais), Original Veículos (50.000 reais) e EPC Construções (50.000 reais).
10) ‘Moreira Franco não é meu sogro’
Rodrigo Maia tem quatro filhos e é casado desde 2005 com Patrícia Vasconcelos Maia, enteada do ministro da Secretaria-geral da Presidência da República, Wellington Moreira Franco. O contraparentesco com o peemedebista, um dos homens de confiança do presidente Michel Temer, motiva especulações sobre o destino de Moreira Franco em um eventual governo Maia.
Contrariado com notícias que davam conta de que o ministro seria seu sogro e, por isso, acabaria blindado, o presidente da Câmara esclareceu na semana passada: “O ministro Moreira Franco não é meu sogro, ele é casado com a minha sogra”.