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Confusão e prejuízos na Petrobras poderiam ter sido evitados

Supremo Tribunal Federal reconheceu legalidade da lei que proíbe indicação de políticos para cargos em empresas estatais

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 Maio 2024, 11h52
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  • Em março do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu em caráter liminar trechos da Lei da Estatais que restringiam a indicação de políticos para cargos de direção em empresas públicas. A norma foi criada no governo do então presidente Michel Temer, após a revelação dos escândalos de corrupção na Petrobras que envolveram o PT e uma miríade de políticos de vários partidos. Desde 2016, estava proibida a indicação para cargos de diretoria ou para o conselho de administração das companhias de ministros de Estado, dirigentes partidários, parlamentares e pessoas que atuaram na estrutura decisória de campanhas eleitorais – o que representou um avanço nos critérios de governança, ergueu barreiras de contenção contra ingerências indevidas, privilegiou o profissionalismo e estancou a roubalheira. A suspensão da medida, decidida liminarmente pelo então ministro Ricardo Lewandowski, permitiu ao governo Lula preencher livremente mais de 580 cargos considerados estratégicos, inclusive na Petrobras.

    Na última quinta-feira, 9, o STF finalmente concluiu o julgamento que questionava a constitucionalidade dos principais artigos da Lei das Estatais. Por 8 votos a 3, os ministros decidiram que as regras não são desproporcionais, como argumentou o PC do B, autor da ação, e nem atingem os direitos fundamentais das pessoas, como defendia o governo Lula. Ou seja: as normas aprovadas em 2016 continuam valendo e proíbem as nomeações políticas para cargos em diretorias e conselhos de administração das empresas públicas. Em tese, portanto, todos os indicados que não se enquadram na norma legal deveriam ser substituídos. Estariam nesse rol, entre outros, o ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, demitido por Lula na última-terça-feira, confusão que provocou enormes prejuízos à empresa, além de gestores que assumiram posições importantes no Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Correios e Caixa Econômica. Embora desejável, não é isso que vai acontecer.

    Na mesma sessão que reconheceu a constitucionalidade da lei, os ministros também decidiram que os políticos nomeados por Lula poderão continuar onde estão. Parece contraditório. A tese foi apresentada pelo ministro Dias Toffoli. Segundo ele, quem foi indicado quando a lei estava suspensa tem o direito de permanecer no cargo. A proposta foi encampada pela maioria dos ministros. “Passado tanto tempo, em que pessoas já estão exercendo os cargos há mais de um ano, eu acho que a gente criaria uma instabilidade indesejável, afetando o princípio da continuidade dos serviços públicos”, ponderou o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF. Ex-ministro da Justiça do governo Temer, Alexandre de Moraes também endossou a tese que criou uma espécie de exceção constitucional. “Várias nomeações já foram feitas e as pessoas assumiram de boa-fé. Os trabalhos vêm sendo realizados”, disse ele em seu voto.

    O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) lembra que o reconhecimento da constitucionalidade da Lei das Estatais foi uma decisão de extrema relevância para a sociedade. Desde que ela entrou em vigor, as denúncias de corrupção nas empresas públicas diminuíram e a recuperação financeira é ascendente — reflexos de um distanciamento maior dos gestores em relação ao poder de turno. A preocupação é que esse cenário mude. Ao menos 60 políticos foram alojados em cargos importantes enquanto vigorou a liminar concedida por Ricardo Lewandowski, atual ministro da Justiça. Essas pessoas podem permanecer nos cargos até 2016, quando termina o governo Lula, ou até 2030, caso o presidente seja reeleito. Dependendo de como se comportarem, podem botar a perder uma nova cultura que começava a produzir resultados. “A manutenção dos administradores não foi a melhor decisão”, diz Valéria Café, diretora do IBGC. “O argumento de se preservar a continuidade da gestão é bastante frágil, já que a maioria dessas posições foi preenchida há pouco mais de um ano ou menos – e muitos por pura barganha política, com nomes de fora da carreira ou histórico de atuação na área”, ressalta Bruno Brandão, diretor da Transparência Internacional.

    O caso da Petrobras é o melhor exemplo de como a ingerência política pode levar uma companhia à beira da bancarrota. A Operação Lava-Jato descobriu que, em um período de dez anos, englobando os dois primeiros governos de Lula e Dilma Rousseff, um consórcio formado por políticos, partidos e empresários desviou 42 bilhões de reais dos cofres da petroleira. O esquema de corrupção começava exatamente com a nomeação dos diretores da empresa. A Lei das Estatais foi editada para impedir que esse tipo de coisa voltasse a se repetir. “Essa decisão do Supremo representou um casuísmo que dificilmente a população vai entender. Não sei se isso pode gerar um novo petrolão, mas abre um grave precedente”, diz a professora Maria Tereza Sadek, do departamento de Ciência Política da USP e diretora do Instituto Não Aceito Corrupção. Vale sempre lembrar que as estatais e as empresas de economia mista são criadas — e algumas mantidas até hoje — pelos impostos dos contribuintes. Devem ser úteis à sociedade – e só a ela.

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