Sem alarde, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro compareceram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quarta-feira, 21. Era véspera do início do julgamento que nesta semana confirmou a inelegibilidade do capitão pelo período de oito anos, e buscava-se uma saída para evitar o banimento das urnas pelo menos até 2030. Embora não tivessem apresentado nenhuma proposta concreta aos integrantes do TSE que analisariam as acusações de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, os enviados bolsonaristas foram instruídos a sentir o terreno.
Votos divergentes da tese de inelegibilidade, por exemplo, eram contabilizados como cruciais para a construção do discurso político de nem todo o tribunal presidido pelo antagonista do bolsonarismo, o ministro Alexandre de Moraes, concordava que ele tivesse praticado crime. Também eram importantes para inflar o recurso que advogados do capitão pretendem apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) alegando cerceamento de defesa – a inclusão da minuta do golpe, por exemplo, sequer havia sido descoberta nos primeiros interrogatórios do caso, como o do então ministro de Relações Exteriores Carlos França, arrolado pela equipe de Bolsonaro.
A poucos quilômetros dali, no entanto, o próprio ex-presidente daria um jeito de minar, á sua maneira, a missão dos aliados ao TSE. Ele visitou o gabinete do filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e apesar de instruído por sua equipe a não bater de frente com qualquer um dos sete ministros da Justiça Eleitoral, provocou o relator do caso, o corregedor-geral eleitoral Benedito Gonçalves. “Tenho certeza que até o Benedito, ministro do STJ, agora integrante, como relator do TSE, vai mudar o seu voto. Senhor Benedito, é questão de coerência”, disse. Na sequência, uma estocada no presidente da Corte: “temos o fato de que, por coincidência, por ironia do destino, o senhor Alexandre de Moraes é presidente do TSE. (…) Será péssimo para a democracia se eu for julgado de forma diferente como foi a chapa Dilma-Temer em 2017”.
Ato contínuo, ainda do TSE os emissários do ex-presidente telefonaram para o presidente do PL Valdemar Costa Neto para reclamar da postura do capitão. Disseram, entre outras coisas, não conseguirem conter a verborragia de Bolsonaro em um momento delicado de sua carreira política. No dia seguinte, veriam o ex-mandatário ampliar ainda mais as críticas ao tribunal e pressionar para que um dos ministros interrompesse o julgamento com um pedido de vista. Na sexta-feira 30, o TSE decidiu, por cinco votos a dois, declarar Jair Bolsonaro inelegível pelo período de oito anos. A vista não veio, mas os dois votos contrários à tese de acusação – dos ministros Raul Araújo e Kássio Nunes Marques – foram comemorados como uma pequena vitória jurídica.