A União Europeia e o Mercosul divulgaram um comunicado conjunto nesta quinta-feira, 7, em que se dizem “engajados em discussões construtivas” para finalizar as questões pendentes do acordo de livre-comércio entre os blocos. O anúncio ocorre em meio à cúpula dos chefes de Estado do grupo sul-americano, no Rio de Janeiro, quando era esperado que se anunciasse a assinatura – o que não ocorreu.
“Nos últimos meses, registraram-se avanços consideráveis. As negociações prosseguem com a ambição de concluir o processo e alcançar um acordo que seja mutuamente benéfico para ambas as regiões e que atenda às demandas e aspirações das respectivas sociedades”, afirmou o comunicado.
“Com base nos avanços efetuados até a presente data nas negociações, ambas as partes esperam alcançar rapidamente um acordo que corresponda à natureza estratégica dos laços que as vinculam e à contribuição crucial que podem oferecer para enfrentar os desafios globais em áreas como o desenvolvimento sustentável, a redução das desigualdades e o multilateralismo”, concluiu o texto.
Entraves
O aguardado acordo, negociado há mais de vinte anos, elimina tarifas de importação sobre 92% dos produtos vindos do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o que daria impulso renovado às exportações do grupo, de maioria agrícola. Do outro lado, 72% das mercadorias provenientes da Europa também teriam taxa zero, o que pode soar como boa notícia, mas preocupa os setores industriais sul-americanos, apesar do benefício de comércio e investimentos europeus mais intensos.
Havia expectativa de que a assinatura pudesse ser anunciada nesta quinta, mas a eleição do ultraliberal Javier Milei na Argentina criou uma incógnita sobre o futuro do Mercosul e desacelerou as negociações. Além disso, o presidente da França, Emmanuel Macron, no sábado 2 se disse “totalmente contra” o acordo, criando ondas de choque que aterrissaram na América do Sul e zeraram as chances de uma aprovação ainda neste ano.
Cúpula do Mercosul
No discurso de abertura da cúpula dos chefes de Estado do Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, sobre as tratativas com a União Europeia, que as coisas às vezes “não acontecem do jeito que a gente quer”, mas se disse confiante a respeito da conclusão do pacto.
“Estou muito otimista e tenho como lema nunca desistir. Temos que continuar tentando fazer o acordo com a União Europeia”, defendeu.
Segundo ele, esse tema faz parte da discussão sobre a essência do bloco comercial sul-americano.
“Vamos ter que discutir que Mercosul nós queremos. De quando em quando, nós que somos passageiros nos cargos em que participamos temos que discutir o que deixar de conquista, qual legado vamos deixar”, afirmou. “Nem tudo o que a gente quer acontece do jeito que a gente quer, mas continuamos avançando.”