Forças russas invadiram a Ucrânia por terra, mar e ar na quinta-feira 24 de fevereiro, concretizando os temores do Ocidente com o maior ataque de um Estado contra outro na Europa desde a II Guerra Mundial. O ataque aconteceu por três lados e explosões foram ouvidas em diversas cidades, incluindo na capital, Kiev, pouco antes do amanhecer.
Mísseis russos foram lançados contra cidades ucranianas e Kiev relatou tropas entrando em suas fronteiras nas regiões orientais de Chernihiv, Kharkiv e Luhansk, e chegando via mar nas cidades portuárias de Odessa e Mariupol, ao sul do país.
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Veja abaixo uma linha do tempo de como a invasão se desenrolou.
Putin anuncia ataque
O presidente russo, Vladimir Putin, fez um discurso na noite de quarta-feira 23 no qual declarou o início de uma “operação militar especial” que visaria a “desmilitarização e desnazificação da Ucrânia”, dando a entender erroneamente que a Ucrânia é um país comandado por nazistas. Além disso, afirmou que “responderá com força” se alguém tentar enfrentar a Rússia.
De acordo com Putin, a operação militar teria objetivo de proteger as pessoas de “abusos e genocídio” por parte do governo ucraniano. Apesar da ação militar, negou qualquer plano de ocupação de territórios ucranianos, dizendo que “não vamos impor nada sobre ninguém usando força”.
“As repúblicas populares de Donbas abordaram a Rússia com um pedido de ajuda (…) Tomei a decisão de realizar uma operação militar especial. Seu objetivo é proteger as pessoas que são submetidas a abusos, genocídio de Kiev durante oito anos, e para isso buscaremos desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia e levar à justiça aqueles que cometeram vários crimes sangrentos contra pessoas pacíficas, incluindo cidadãos russos”, disse em pronunciamento televisionado.
As região de Donbas abrange as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk, reconhecidas na segunda-feira por Moscou como independentes. Poucas horas depois do reconhecimento, o Kremlin anunciou a publicação de um decreto ordenando que o Ministério da Defesa enviasse tropas para “funções de manutenção da paz” para as repúblicas autoproclamadas.
Logo após a invasão, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, respondeu em discurso dizendo ter conversado com o presidente americano, Joe Biden, e que os Estados Unidos iriam angariar apoio à Ucrânia.
VIDEO: Russian helicopters attack airport in Hostomel near Ukraine's capital Kyiv pic.twitter.com/3Dll1zbo1T
— The Spectator Index (@spectatorindex) February 24, 2022
“O Ocidente está conosco”, disse, ao anunciar lei marcial em todo o país.
Ataque antes do amanhecer
O ataque aconteceu horas antes do amanhecer com uma série de ataques de mísseis contra locais próximos à capital, Kiev, assim como artilharia pesada usada contra a cidade de Kharkiv, próxima à fronteira com a Rússia. Os ataques então se espalharam rapidamente pela região oriental do país, conforme as forças russas avançavam. Pouco antes do sol nascer, moradores das cidades de Odessa, Dnipro, Mariupol e Kramatorsk relataram grandes explosões.
Em vídeos publicados nas redes sociais, é possível ver um prédio em Kharkiv destruído por um míssil. Durante a madrugada, serviços de emergência ucranianos relataram que ao menos seis pessoas estavam presas em destroços em Nizhyn.
Segundo o Ministério do Interior da Ucrânia, mísseis balísticos foram usados como parte da ofensiva, que também contou com aeronaves, helicópteros e tanques.
Hundreds of people, including many women and children are currently taking shelter inside a subway station in Kharkiv, #Ukraine as explosions are heard in the city. @washingtonpost pic.twitter.com/ZddeHqlMvU
— Salwan Georges (@salwangeorges) February 24, 2022
Dias seguintes
Nos dias seguintes à invasão, forças russas avançaram por diversas partes do país, tomando pontos-chave, como o depósito de resíduos nucleares de Chernobyl.
Nesta terça-feira, 1, após ataque ao centro de Kharkiv, que atingiu o prédio do governo da segunda maior cidade da Ucrânia, a Rússia informou que vai avançar contra os locais de serviços de segurança da capital Kiev.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky chamou a ofensiva de ‘terrorismo de Estado’ e pediu reconhecimento da comunidade internacional a isso. “O objetivo do terror é nos quebrar, é quebrar a nossa resistência”, disse em vídeo. Para ele, Kiev e Kharkiv são os principais alvos da Rússia no momento.
As agências russas de notícias Tass e RIA relataram que o Ministério da Defesa ucraniano afirmou que a Rússia pretende atacar serviços de segurança e unidade de operações especiais em Kiev. A medida seria tomada, segundo Moscou, para evitar “ataques de informação” contra o país.
Mais cedo, um comboio de tanques e veículos russos com cerca de 64 quilômetros de comprimento também foi visto em imagens de satélite ao norte da capital Kiev.
Número de mortes e refugiados
Até o momento, o número de mortes decorrente da invasão ainda é incerto. De acordo com a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, ao menos 102 civis foram mortos e dezenas ficaram feridos, mas o número pode ser baixo em relação à realidade, já que o acesso ainda é difícil. Na noite de domingo, o Ministério do Interior ucraniano relatou 352 mortes de civis, incluindo 14 crianças.
Também no domingo, o Exército russo admitiu pela primeira vez que registrou mortos, embora sem especificar números.
Entre os refugiados, a situação é crítica. Desde o início da invasão na última quinta, ao menos 368.000 pessoas fugiram do país e cruzaram a fronteira rumo a Polônia, Hungria, Romênia e Moldávia, segundo cálculo do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).
A da ONU estima que até 5 milhões de ucranianos serão deslocados ao longo do conflito. Espera-se que 3 milhões de pessoas cheguem só na Polônia, que faz parte da Otan, a principal aliança militar ocidental, e está mantendo as fronteiras abertas.
Junto a isso, no entanto, há intensas críticas do tratamento com refugiados não ucranianos. Dezenas de imigrantes africanos na Ucrânia estão sendo impedidos de atravessar as fronteiras do país. Por meio de publicações no Twitter, refugiados negros dizem que estão sendo deixados de lado na hora de realizar a travessia. Em um dos relatos, um homem disse que seus familiares e outros imigrantes foram instruídos a descer do ônibus em que estavam próximo à fronteira no último sábado e, após questionar a ordem, foi expulso do veículo por militares.
Reações do Ocidente
Logo após a invasão, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, principal aliança militar ocidental, afirmou que irá fortalecer suas forças no leste ucraniano, após o “terrível ataque” ao país. Em nota, a aliança disse que irá enviar forças defensivas terrestres e aéreas, já aumentando a prontidão de forças.
“As ações da Rússia apresentam uma séria ameaça à segurança Euro-Atlântica, e terão consequências geoestratégicas. A Otan continuará tomando todas as medidas necessárias para garantir a segurança e defesa de nossos aliados”, afirmou em comunicado.
Em breve comunicado, o presidente americano, Joe Biden, acusou Putin de lançar um ataque “não provocado e injustificado” à Ucrânia e de apostar em uma “guerra premeditada” que causará perdas “catastróficas”.
“Somente a Rússia é responsável pela morte e destruição que este ataque trará, e os Estados Unidos e seus aliados e parceiros responderão de maneira unida e determinada. O mundo fará com que a Rússia preste contas”, disse Biden em um breve comunicado
Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu “enfraquecer a economia da Rússia e sua capacidade de modernização” após o “ataque bárbaro”.
Sanções já apresentadas pelos Estados Unidos estipulam cortes de financiamentos ocidentais a bancos russos e outras instituições, fazendo com que o Exército russo perca parte de seu financiamento.
Nos dias seguintes, o Ocidente aumentou a pressão sobre a Rússia e parte do governo de Putin. No sábado, a comunidade europeia e os Estados Unidos anunciaram novas sanções econômicas, entre elas a retirada dos bancos russos do sistema financeiro internacional. No domingo, a União Europeia anunciou também o fechamento do espaço aéreo para aeronaves pilotadas por russos e o banimento na região da agência oficial de notícias do governo da Rússia.