Parlamentares trabalhistas do Reino Unido convocaram colegas de outros partidos de oposição e um grupo de conservadores para a discussão da moção de censura ao primeiro-ministro, Boris Johnson, gerada por seu projeto de levar adiante o Brexit mesmo sem acordo com a União Europeia. A iniciativa de derrubar Johnson partiu do líder trabalhista Jeremy Corbyn, que há muito ambiciosa o posto de Downing Street 10.
Corbyn apresentou na noite de quarta-feira 14 sua proposta de censura a Johnson em carta aos líderes partidários. Explicou na missiva que tentará obter o apoio da maioria dos deputados para presidir “um governo provisório, por um período limitado, com o objetivo de convocar eleições gerais”. Também pleiteou uma nova extensão do prazo de adoção do Brexit, previsto para 31 de outubro, e defendeu a realização de um referendo sobre a permanência ou a saída do Reino Unido da União Europeia.
“Este governo não tem um mandato para levar a cabo uma saída sem acordo, e o referendo de 2016 não rendeu um mandato para uma saída sem acordo”, afirmou o líder trabalhista em sua carta. “Por este motivo, apresentarei uma moção de censura o quanto antes, quando estivermos certos de vencê-la-la”, acrescentou Corbyn.
“Temos que trabalhar em conjunto. Embora não gostem do que os outros digam, temos que impedir um Brexit sem acordo”, afirmou Rebecca Long-Bailey, ministra da Economia do “governo sombra” de Corbyn, nesta quinta-feira à rede BBC.
Um dos ativistas pró-Brexit durante o referendo de 2016, Johnson se mostra determinado a concluir a saída do Reino Unido da União Europeia em 31 de outubro, a data prevista. A maioria do Parlamento rejeitou três vezes o acordo negociado pela ex-primeira-ministra Theresa May com Bruxelas. Johnson, que assumiu o lugar de May há três semanas, não indica interesse em iniciar uma nova rodada com os europeus.
O líder dos conservadores dispõe teoricamente de maioria no Parlamento britânico, com 311 das 650 cadeiras, e se defronta agora com uma forte oposição – ainda que dividida. Os trabalhistas, somados aos integrantes do partido nacionalista escocês (SNP) e aos liberais, totalizam 296 votos. Quatro conservadores rebeldes se dispõem a votar a favor da moção de censura, o que mudaria o jogo para 307 contra 300.
Rebecca Long-Bailey pediu à nova presidente do Partido Liberal Democrata (Lib Dem), Jo Swinson, que mude de posição e deixe de lado suas diferenças com a cúpula trabalhista. Embora tenha garantido nesta quinta-feira que estava “disposta a trabalhar com quem fosse para deter Boris Johnson”, Swinson também expressou reservas em relação a Corbyn.
Para ela, há um “fator de divisão” também no trabalhismo. Swinson sugere um governo presidido pelo deputado com trajetória mais longeva na Câmara dos Comuns, como o conservador Ken Clarke ou a trabalhista Harriet Harman, figuras que claramente não buscam permanecer por muito tempo no poder.
O nacionalista escocês Ian Blackford também manifestou seu apoio a uma moção de censura, enquanto Liz Saville Roberts, do partido galês Plaid Cymru (quatro deputados), deixou a porta aberta para respaldar este Executivo formado por toda a oposição.