As polêmicas acerca do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, continuam a todo o vapor. Nesta quarta-feira, 6, uma nova pressão sobre a possibilidade de renúncia faz o premiê se agarrar ao poder com todas as forças. Seu apoio diminui cada vez mais, à medida que o isolado premiê enfrenta uma onda de renúncias de seus ministros.
Em meio a tanta incerteza, o que aconteceria com a política britânica caso Johnson renunciasse? Em primeiro lugar, não haveria automaticamente uma eleição geral para substituí-lo. Em vez disso, o Partido Conservador precisaria selecionar uma figura interna para se tornar o próximo primeiro-ministro, algo ocorrido com certa frequência nas últimas décadas – sua antecessora, Theresa May, e o próprio Boris Johnson assumiram o cargo após mudanças sem uma eleição geral.
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De acordo com as regras do bloco político, a votação para um novo líder partidário ocorreria em duas etapas: primeiro, os membros conservadores do Parlamento apresentariam seus nomes e enfrentariam uma série de votações até restar apenas dois candidatos; em seguida, todos os mesmos membros seriam chamados novamente para escolher entre um dos dois.
Ainda de acordo com as normas partidárias, Johnson normalmente deveria permanecer no cargo até que a escolha fosse concretizada, a exemplo do ocorrido com May, em 2019. No entanto, ele tem a opção de renunciar e recomendar que a rainha escolha um novo primeiro-ministro para ocupar o cargo até o fim do processo de votação interna.
Em dezembro de 2018, Theresa May chegou a sobreviver a um voto de desconfiança mas optou por anunciar sua renúncia seis meses depois. Como consequência, foi realizada uma eleição na qual o atual premiê britânico e seu oponente, Jeremy Hunt, que foram escolhidos como finalistas, passaram seis semanas agitadas em campanha antes da votação final, que contou com votos de mais de 160 mil membros do partido.
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O sucessor de Johnson não é claro, mas existem alguns nomes de destaque.
Liz Truss, ministra de Relações Exteriores que foi nomeada por Johnson no ano passado, é vista como uma estrela política em ascensão. Ela fez parte dos governos de David Cameron e Theresa May, é a primeira mulher a chefiar a pasta Relações Exteriores de um governo conservador, e sua defesa de sanções contra os oligarcas russos no início da guerra na Ucrânia foi aplaudida. Mas ela também expressou forte apoio a Johnson, então resta saber se essa lealdade pode feri-la politicamente.
Nadhim Zahawi, que foi nomeado ministro da Economia horas após a renúncia de Rishi Sunak, subiu na hierarquia do Partido Conservador na última década e é visto como um forte candidato à liderança do partido. Ele ficou ao lado de Johnson, mas deixou claro na manhã desta quarta-feira que seu foco principal é o serviço público ao país. O político chefiou anteriormente a pasta da Educação e atuou como ministro de vacinas durante o auge da pandemia de coronavírus.
Jeremy Hunt, ex-ministro de Relações Exteriores que Johnson derrotou na última disputa pela liderança do partido, também é visto como um potencial líder e é o favorito das casas de apostas para o cargo principal. Depois de perder a disputa pela liderança de 2019, ele se mudou para as bancadas do partido, mas continuou a ser um membro influente. Hunt inicialmente se opôs ao Brexit em um referendo crucial em 2016, mas nos anos seguintes saiu em apoio a ele. Suas gafes públicas o machucaram no passado, inclusive quando ele acidentalmente descreveu sua esposa chinesa como japonesa.
Rishi Sunak, ex-ministro da Economia cuja renúncia na terça-feira representou um duro golpe para Johnson, há muito é visto como um potencial líder do partido, embora sua reputação tenha sido manchada por controvérsias recentes. Sua rica esposa foi acusada de evasão de impostos e ele próprio continuou a ter um green card dos Estados Unidos durante a ocupação do cargo, permitindo que ele vivesse e trabalhasse nos Estados Unidos por meses. Sunak também foi multado por violar o lockdown contra o coronavírus, atendendo à festa de aniversário de Johnson na sede do governo.
Caso Boris Johnson insista em permanecer no cargo, ele não poderá enfrentar outro voto de desconfiança, já que enfrentou um no mês passado. No entanto, essas regras podem ser alteradas pela alta hierarquia do Partido Conservador no Parlamento.
Sunak e o ministro da Saúde, Sajid Javid, renunciaram nesta terça-feira 5, após mais um escândalo atingir o governo. Segundo eles, o líder britânico não estava apto para governar. O movimento provocou a saída subsequente de cerca de 15 políticos de baixo escalão e a retirada do apoio de legisladores leais.
Esse último escândalo envolve uma nomeação de Johnson de um legislador para um papel envolvido no bem-estar e disciplina do partido. Ele precisou se desculpar pela escolha, porque apontou o político ao cargo mesmo depois de ser informado de que havia sido denunciado por assédio sexual. O legislador foi forçado a renunciar, e o porta-voz de Johnson culpou pelo incidente um “lapso na memória” do premiê.
O atual primeiro-ministro se tornou o menino-propaganda do Brexit e obteve uma vitória eleitoral esmagadora em 2019. Isso foi antes de adotar uma abordagem combativa, e muitas vezes caótica, do governo.
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Sua liderança foi atolada por escândalos e erros, especialmente nos últimos meses. Seu manejo inicial da pandemia foi amplamente criticado. O primeiro-ministro foi multado pela polícia por violar as restrições contra a Covid-19 em um dos piores momentos da pandemia no Reino Unido, e uma investigação do governo sobre festas em seu escritório em Downing Street responsabilizou Johnson por falta de liderança.
Ele também foi bombardeado por críticas de que não teria feito o suficiente para enfrentar a inflação e a crise de custo de vida no país, com muitos britânicos lutando para lidar com o aumento nos preços de combustível e alimentos. A abordagem combativa de Johnson em relação à União Europeia também pesou sobre a libra, exacerbando a inflação que deve ultrapassar 11%.