Grupos da Rússia conduziram uma campanha para espalhar informações falsas com o objetivo de influenciar as eleições deste ano para o Parlamento da União Europeia, de acordo com uma análise feita pela Comissão Europeia e pelo serviço de diplomacia do bloco econômico.
As táticas digitais teriam como objetivo debilitar a legitimidade democrática da União Europeia e investiam em temas controversos nos países-membros para semear o ódio dos eleitores, afirmam as evidências coletadas por Bruxelas em um relatório publicado nesta sexta-feira, 14.
“A evidência coletada revela uma atividade contínua e organizada de desinformação feita por fontes russas com o objetivo de diminuir a adesão à eleição e influenciar as preferências dos eleitores”, diz a análise. “Esta estratégia incluía um grande número de tópicos, desde questionamentos sobre a legitimidade da democracia da União até a exploração dos controversos debates sobre problemas como a migração e a soberania nacional.”
A atribuição da intervenção às “fontes russas” é uma postura excepcional do bloco, já que a União Europeia é geralmente muito cuidadosa ao apontar dedos para países estrangeiros ao comentar ataques cibernéticos.
Mas, nos últimos anos, o Kremlin vem ganhando atenção por repetidas tentativas de invasão virtual contra instituições internacionais. O assunto já foi alvo de discussão em Haia no final do ano passado e, agora, cresceram as suspeitas entre autoridades europeias de que o governo russo está por trás dos hackers que alvejaram uma missão diplomática da União em Moscou.
“As campanhas de desinformação eram inteligentes e sutis ao focar em assuntos que importam para os públicos alvo”, disse à agência Politico Chloe Colliver, do Instituto de Diálogo Estratégico.
Aderindo à difusão de “fake news” sobre as eleições, grupos e políticos europeus também usaram com frequência as táticas inicialmente planejadas pelos russos, incluindo em suas campanhas os esforços para influenciar as discussões em redes sociais, conta o relatório.
O objetivo, de acordo com o documento, era promover visões extremistas e polarizar os debates políticos nacionais poucas semanas antes das eleições para o Parlamento Europeu, realizadas no mês passado.
A análise afirma que ainda é “cedo demais” para concluir se as campanhas na internet realmente influenciaram as escolhas dos eleitores.
“Dada a natureza progressivamente sofisticada das atividades de desinformação e as dificuldades de pesquisadores independentes para acessar os dados importantes das plataformas, uma avaliação conclusiva do impacto destas campanhas levará tempo e exigirá um esforço conjunto da sociedade civil, acadêmicos, agentes públicos e plataformas online.”
Críticas às redes
O relatório da Comissão Europeia corrobora com pesquisas semelhantes de outros especialistas em notícias falsas, que também denunciaram trabalhos de grupos russos e nativos, emprestando táticas um do outro, para tentar influenciar as eleições de maio.
A análise da União Europeia sobre a propagação de fake news durante a campanha é resultado de esforços conjuntos entre a Comissão e alguns países europeus para restringir essas atividades virtuais.
Ela foi motivada pelas tentativas das autoridades europeias de diminuir a disseminação dos discursos de ódio nas plataformas online. Estes esforços incluíram códigos de conduta para plataformas como Facebook, Twitter e Youtube para combater usuários extremistas, assim como tentativas de coordenação entre autoridades dos países-membros da União Europeia para compartilhar suas ideias de solução para o problema.
Apesar de muitas companhias de tecnologia estarem cooperando com os trabalhos da Comissão, autoridades de Bruxelas continuam frustradas com a postura de gigantes do ramo, como o Facebook e o Twitter, que não estariam “fazendo o suficiente” para parar a disseminação de conteúdo radical e falso, afirma o Politico.
Segundo especialistas, estas empresas não estão compartilhando dados suficientes com os analistas da União Europeia, que não têm informação suficiente para minar campanhas de desinformação virtual.
Em resposta, as empresas destacaram o fato de, nos últimos meses, terem retirado do ar milhões de contas falsas, além de bloquear milhares de páginas europeias com discursos de ódio. O Facebook ainda afirmou ter estabelecido um “quarto de guerra” em sua filial em Dublin, na Irlanda, para coordenar sua resposta a ataques virtuais nas eleições para o Parlamento.
Como conclusão da análise, a Comissão afirma que irá revisar a postura das plataformas sociais sobre o código de conduta voluntário, para medir o impacto delas nas narrativas falsas circulando online. “Se os resultados desta revisão não forem satisfatórios, a Comissão deve propor mais iniciativas para combater o problema, incluindo ideias de natureza regulatória.”