No sétimo dia após o início da invasão da Rússia à Ucrânia, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Moscou de querer “apagar a história” ucraniana. A declaração acontece em meio ao avanço de forças russas em direção à capital, Kiev, e a tomada de cidades como Kherson, próxima à península da Crimeia.
“Estamos quase sem dormir ou dormindo mal durante sete noites. Mas o tempo chegará e poderemos dormir. Depois da guerra, depois da vitória”, disse Zelensky em mensagem publicada no Facebook.
No texto, ele condenou a Rússia pelo ataque aéreo a uma torre de TV na ravina de Babi Yar, nos arredores de Kiev, onde fica um memorial em homenagem aos mais de 30 mil judeus exterminados na ocupação da região por forças nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
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“Este ataque mostra que muitas pessoas na Rússia não conhecem Kiev. Eles não sabem nada sobre Kiev, sobre nossa história. Mas eles receberam ordens para apagar nossa história, apagar nosso país, apagar todos nós”, declarou.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 660 mil pessoas já deixaram a Ucrânia, fugindo das consequências do ataque militar russo ao país e mais de 12 milhões de pessoas precisarão de ajuda e proteção humanitária dentro e fora do país nos próximos meses.
Zelensky também fez um apelo aos judeus do mundo inteiro para que levantem suas vozes contra a invasão russa.
“Por acaso não estão vendo o que está acontecendo?”, perguntou o líder ucraniano, acrescentando que “o nazismo nasce do silêncio”.
Na terça-feira, em um tom contrário, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, afirmou que a invasão russa à Ucrânia trata-se de uma “operação especial” para “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho. Durante discurso na ONU, boicotado representantes de outros países que se levantaram em protesto, Lavrov acusou Kiev de violar as liberdades fundamentais da população russa no país durante oito anos.
“Os neonazistas tomaram o poder em 2014 e esta ocupação deve acabar. O silêncio do Ocidente mostra os padrões duplos dos Estados Unidos e seus aliados, que causaram milhares de vítimas na antiga Iugoslávia, Líbia e Afeganistão”, disse ele, acusando Kiev de impor um regime de terror que reprime o uso da língua russa em escolas ou locais de trabalho.
Em sua publicação, o líder ucraniano também pediu mais apoio à Ucrânia por parte da comunidade internacional e elogiou o fato de a Suíça, que historicamente adota posições neutras, havia aderido às sanções contra a Rússia.
“O que os outros países estão esperando? Nossa coalizão contra a guerra aumentou suas fileiras com países com os quais Moscou poderia contar há uma semana”, afirmou.
Na noite de terça-feira, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução em que condena a Rússia por atacar militarmente a Ucrânia. Ao concluir que o governo russo agiu de forma “injustificada”, desrespeitando regras internacionais em vigor desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os eurodeputados aprovaram que os países que integram a União Europeia apliquem sanções severas conjuntas contra a Rússia e também contra Belarus, cujo presidente, Alexander Lukashenko, é acusado de apoiar Putin.
A decisão segue o anúncio de duras sanções econômicas do Ocidente contra Moscou pela recente invasão à Ucrânia. No sábado, EUA, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Canadá decidiram banir alguns bancos russos do SWIFT, o sistema de pagamentos que conecta milhares de instituições financeiras em todo o mundo.
Mais tarde, no domingo, a UE anunciou também o fechamento do espaço aéreo para aeronaves pilotadas por russos e o banimento na região da agência oficial de notícias do governo da Rússia.
Apesar de represálias, incluindo na forma de sanções econômicas, o governo russo já vinha aproveitando o momento para colocar ainda mais pressão sobre a Ucrânia e o presidente Volodymyr Zelensky, afirmando que a melhor solução para acabar com a crise seria o país desistir de entrar na Otan, principal aliança militar ocidental e grande ponto de atrito entre a Rússia e o Ocidente.
Segundo o presidente russo, Vladimir Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado.
A aliança, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos trinta aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.