A Rússia ameaçou nesta segunda-feira, 20, retaliar as restrições “hostis” da Lituânia ao trânsito ferroviário para o enclave russo de Kaliningrado, no Mar Báltico, causando preocupação na União Europeia. A cidade fica na Europa, fora do território continental russo, entre a Polônia e a Lituânia.
A ação do governo lituano foi descrita como “sem precedentes” em Moscou, onde o Ministério das Relações Exteriores disse ter plenos direitos de responder para proteger seu interesse nacional.
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Os comentários causaram preocupação na União Europeia, que respondeu dizendo que a Lituânia está apenas cumprindo as sanções previstas pelo bloco contra a Rússia. De acordo com o líder da política externa da UE, Josep Borrell, o Kremlin está tentando vender uma narrativa diferente da verdadeira e confirmou que irá verificar se todas as regras estão sendo seguidas.
“Estou sempre preocupado com retaliações russas. Não há bloqueio. O trânsito terrestre entre Kaliningrado e outras partes da Rússia não foi proibido. Em segundo lugar, o trânsito de pessoas e bens não sancionados continua em vigor. Em terceiro lugar, a Lituânia não tomou quaisquer restrições nacionais unilaterais”, disse, confirmando que o bloco está em situação de precaução.
No último final de semana, houve um alvoroço nos mercados em Kaliningrado depois que autoridades da região anunciaram que o governo lituano estava se preparando para fechar as ligações ferroviárias e de gasodutos vindas da Rússia. Nesta segunda, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, intensificou as tensões após dizer que há chances de uma resposta ao “movimento ilegal”.
“Esta decisão é realmente sem precedentes. É uma violação de tudo. Consideramos isso ilegal e muito grave. Precisamos de uma análise séria e profunda para elaborar nossa resposta”, disse.
Localizada entre a Lituânia e a Polônia, a cidade de Kaliningrado fica a mais de 1.300 quilômetros de Moscou e depende do transporte ferroviário para receber grande parte de seus bens. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores russo disse que o movimento “abertamente hostil” deve ser revertido o quanto antes.
“Se o trânsito de carga entre a região de Kaliningrado e o resto da Federação Russa via Lituânia não for totalmente restaurado em um futuro próximo, a Rússia se reserva o direito de tomar medidas para proteger seus interesses nacionais”, afirmou.
Em resposta, Vilnius afirma que não está violando nenhuma lei e que apenas está cumprindo com as diretrizes vindas da União Europeia. Em reunião em Bruxelas, o ministro das Relações Exteriores do país, Gabrielius Landsbergis, disse que Moscou está espalhando informações falsas e que o serviço ferroviário nacional está apenas cumprindo o regime de sanções da UE, que proíbe o fornecimento de aço ou bens feitos de minério de ferro para a Rússia.
“Acho que houve algumas informações falsas, não pela primeira vez, anunciadas pelas autoridades russas, mas estou feliz por termos a chance de explicar isso. Neste momento, cerca menos da metade dos bens que transitam pela Lituânia estão na lista de sanções, mas isso não significa que todos estejam sob sanções agora”, disse.
Por meio do Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou que os russos não têm o direito de ameaçar a Lituânia e elogiou a postura de princípios do país.
A cidade de Kaliningrado foi capturada da Alemanha nazista pelo Exército da antiga União Soviética e cedida ao país em 1945, após o fim da guerra. Sede da frota russa do Mar Báltico, o porto permanece livre de gelo por todo o ano, algo raro para o país.
Devido a sua posição, a Suécia teme um ataque naval em Gotland, uma ilha próxima à cidade, ao mesmo tempo que a Otan acredita que o Kremlin possa tentar invadir a Polônia ou a Lituânia para criar um corredor terrestre do território até Belarus.
Kaliningrado é ainda considerada uma “zona de tampão natural” que fornece uma primeira linha de defesa a partir do Ocidente e está repleta de sistemas de radar que fornecem vigilância aérea da Europa Central. Em 2016, o Kremlin enviou para a região um sistema de mísseis capaz de comportar ogivas nucleares, afirmando ser uma medida necessária para conter a constante presença militar americana na região.