O chefe da CIA, William Burns, disse na noite de quinta-feira 20 que o presidente russo, Vladimir Putin, ainda está planeja como se vingar de Yevgeny Prighozin, o líder do grupo Wagner, um exército privado russo, que realizou uma revolta fracassada contra o Kremlin. Segundo a autoridade de inteligência americana, um acordo firmado entre o mercenário e o governo russo serve para Putin ganhar tempo.
No Fórum de Segurança de Aspen, Burns afirmou que o motim expôs fraquezas significativas no sistema de poder que o presidente da Rússia construiu, e por isso ele ainda pode buscar retaliação contra Prigozhin.
“O que estamos vendo é uma dança muito complicada”, avaliou o chefe da CIA.
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Segundo o acordo entre o exército mercenário e o Kremlin, Prigozhin deveria partir em exílio para Belarus. No entanto, após uma passagem por Minsk, capital bielorrussa, ele também foi avistado em São Petersburgo e outras cidades russas.
Burns analisou que a aparente impunidade não deve durar muito. “É provável que Putin esteja tentando ganhar tempo enquanto pensa na melhor forma de lidar com o líder do grupo Wagner”, acrescentou.
Como o exército mercenário ainda tem muito valor para o governo da Rússia em lugares como Sudão, Líbia e Síria, Putin pode tentar separar o grupo de seu líder. Quando conseguir, disse Burns, o líder do Kremlin deve se vingar.
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“Putin pensa que a vingança é um prato que se come frio”, afirmou o chefe da CIA. “Na minha experiência, Putin é o apóstolo definitivo da vingança, então ficaria surpreso se Prigozhin escapasse de retaliações.”
No início deste mês, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sugeriu que havia o risco de o chefe do grupo Wagner ser envenenado.
“Se eu fosse ele, teria cuidado com o que como. Ficaria de olho no meu cardápio”, brincou o líder americano.
O diretor da CIA ecoou a frase, dizendo: “Se eu fosse Prigozhin, não demitiria meu provador de comida.”
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Burns afirmou que sua agência de inteligência tinha conhecimento prévio do motim, confirmando ainda relatos de que Sergei Surovikin, um general russo de alta patente que supostamente também sabia sobre a revolta, não tem “liberdade de movimento”.
O motim mercenário foi o golpe mais direto a Putin em seus 23 anos no poder. O líder do grupo Wagner, inclusive, questionou diretamente a justificativa do Kremlin para a guerra na Ucrânia, dizendo que ela foi construída com mentiras.
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Burns disse que a situação fez com que a população russa ficasse em dúvida “se o imperador estava sem roupas, ou por que está demorando tanto para se vestir”, em referência ao presidente russo.
Prigozhin, antes um acólito, é apelidado de “chef de Putin”, pois ganhou destaque depois de fornecer serviços de bufê a Putin e ao exército antes de fundar o grupo Wagner.