O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, afirmou nesta segunda-feira, 29, que continuará no cargo, dias depois de ameaçar um pedido de renúncia. A desistência seria uma resposta ao que diz ser uma “operação de assédio e intimidação” por parte dos seus opositores políticos contra ele e sua família, incluindo acusações de corrupção contra sua esposa, Begoña Gómez, arquivada na semana passada.
“Decidi continuar, continuar com ainda mais força, se possível”, disse em discurso no Palácio da Moncloa. “Assumo diante de vocês o meu compromisso de trabalhar sem descanso, com firmeza e com serenidade pela regeneração pendente da nossa democracia”.
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Na liderança do país desde 2018, o esquerdista Sánchez, de 52 anos, disse na quarta-feira que a “gravidade dos ataques” que ele e a sua esposa estão sofrendo o levou a reavaliar seu cargo, em anúncio feito depois de um tribunal de Madri ter aberto uma investigação preliminar contra Gómez após uma denúncia feita pelo Manos Limpias (Mãos Limpas), um grupo ativista cujo líder tem ligações com a extrema direita. Em carta, ele disse que a resposta final sobre sua decisão seria dada nesta segunda-feira, prazo que foi cumprido.
Na carta, Sánchez disse que a queixa do Manos Limpias se baseava em “supostas reportagens” de sites de notícias cujas tendências políticas ele descreveu como “abertamente de direita e extrema direita”. Ele acrescentou que a esposa “defenderá a sua honra e cooperará com o sistema de justiça” para esclarecer fatos “tão escandalosos na aparência quanto inexistentes”.
O juiz responsável ordenou uma investigação preliminar com base nesses relatos da mídia online. A acusação foi então arquivada pelo Ministério Público.
Sánchez acusou os seus adversários políticos – principalmente Alberto Núñez Feijóo, líder do conservador Partido Popular (PP), e Santiago Abascal, líder do partido de extrema direita Vox – de “colaborar com uma galáxia digital de extrema direita e com o Manos Limpias”. Segundo ele, seus opositores lançaram uma infundada “operação de assédio e intimidação por terra, ar e mar”, atacando sua esposa com objetivo de provocar o seu “colapso pessoal e político”.
Sánchez – que garantiu um segundo mandato no ano passado, oferecendo uma anistia controversa aos separatistas catalães em troca do seu apoio no Congresso – é conhecido como um operador político astuto. Depois de ter sido afastado pelo seu próprio partido, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) em 2016, Sánchez conseguiu regressar à liderança da sigla no ano seguinte. Em 2018, ele usou um voto de desconfiança para derrubar o governo do Partido Popular (PP) e assumir como primeiro-ministro.
Dois anos mais tarde, Sánchez juntou-se ao partido Podemos, de esquerda, para formar o primeiro governo de coligação da Espanha em 80 anos.