O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e do presidente da França, Emmanuel Macron, se juntaram nesta sexta-feira, 2, para pressionar o Kosovo a realizar novas eleições no norte do país. O objetivo é diminuir as tensões com a Sérvia, que vêm aumentando desde uma eleição altamente contestada em abril.
Em abril, a minoria étnica sérvia do Kosovo boicotou as eleições locais no norte do país, que tiveram comparecimento às urnas de menos de 3,5%. O pleito, mesmo assim, permitiu que candidatos de etnia albanesa assumissem o controle dos conselhos de quatro municípios.
O mandato desses prefeitos foi considerado ilegítimo pelo minoria sérvia, o que provocou violentos protestos no norte do Kosovo.
A preocupação da Europa com a possibilidade do conflito se intensificar foi tanta que, no encerramento de uma cúpula de 46 líderes europeus na Moldávia na quinta-feira 1, os mandatários da Sérvia e de Kosovo foram convidados para conversas improvisadas.
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O presidente sérvio, Aleksandar Vučić, acusou a líder kosovar, Vjosa Osmani, de recusar uma reunião na cúpula sobre o que ele disse serem “eleições falsas” na fronteira.
“Está muito claro que as autoridades kosovares têm responsabilidade pela situação atual”, disse Macron, afirmando que houve “descumprimento” de um acordo firmado há apenas algumas semanas.
“Pedimos aos dois partidos que organizem novas eleições nestes quatro municípios o mais rapidamente possível, com um compromisso do Kosovo com a participação nestas eleições de forma clara por parte do lado sérvio”, completou.
Osmani disse aos líderes europeus que isso seria possível se Belgrado não encorajasse os sérvios que moram no Kosovo a boicotar a votação.
Igor Simić, vice-presidente do partido minoritário Lista Sérvia no norte de Kosovo, afirmou apoiar os sérvios que estão protestando contra autoridades kosovares. Entre as suas demandas está a saída das “forças especiais de Kosovo e falsos prefeitos”, bem como a liberação de manifestantes presos.
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Na cidade de Zvecan, no norte do Kosovo, manifestantes sérvios chegaram a entrar em confronto com as forças de manutenção da paz da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que estavam protegendo os prefeitos albaneses. O conflito resultou em mais de 60 feridos em ambos os lados.
Segundo analistas, é possível que os responsáveis por atacar soldados da aliança militar ocidental tenham sido pagos, uma tática que o presidente sérvio Vučić usou no passado para tirar o foco dos problemas domésticos. A teoria, contudo, não foi comprovada.
Para lidar com o problema, a Otan anunciou que enviaria 700 soldados extras para o país. Porém, atender às demandas da minoria sérvia exigirá compromissos de longo prazo.
Nos últimos meses, uma série de incidentes aumentou as tensões entre sérvios e kosovares. Em novembro, Kosovo anunciou planos para multar residentes sérvios que se recusassem a trocar as placas de carros emitidas pela Sérvia. As forças especiais da polícia kosovo-albanesa também intensificaram sua presença nas áreas sérvias, e vários habitantes da etnia minoritária foram baleados e feridos.
A violência na região também está sendo alimentada por desinformação de todos os lados. Canais russos do Telegram espalham relatos de que há tanques na fronteira de Kosovo, enquanto tabloides sérvios afirmam que a minoria está sendo expulsa do país.
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Os problemas entre sérvios e kosovares não são novos. Kosovo é um pequeno país ao sul da Sérvia, onde vivem 1,8 milhão de pessoas, sendo 92% de etnia albanesas e 6% de etnia sérvia.
Com o desmantelamento da Iugoslávia em 1990, Kosovo demandaram independência, o que foi recebido com uma repressão brutal contra os albaneses por parte da Sérvia. O conflito terminou com um bombardeio da Otan, em 1999, mas as tensões na região persistem até hoje.
Em 2008, o Kosovo declarou sua independência unilateralmente. Um total de 99 dos 193 membros das Nações Unidas reconhecem o status do país, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido e 22 dos 27 países da União Europeia.
Porém, nações como Sérvia, Rússia e China ainda não reconhecem a independência e bloqueiam o país de entrar nas Nações Unidas.