Todos os ministros do Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema-direita, renunciaram em massa ao governo da Áustria nesta segunda-feira, 20, depois que um escândalo de corrupção atingiu o líder da sigla e vice-primeiro-ministro, Heinz-Christian Strache.
O presidente do FPÖ foi filmado negociando contratos públicos com a sobrinha de um oligarca russo em troca de apoio político e financeiro. Renunciou no sábado 18, após a divulgação das imagens.
Após a demissão, o ministro dos Transportes, Norbert Hofer, assumiu a liderança da legenda. Nesta segunda, contudo, Hofer e todos os outros militantes do FPÖ que fazem parte do gabinete do primeiro-ministro, Sebastian Kurz, também renunciaram. O partido detinha cinco pastas: Interior, Relações Exteriores, Defesa, Transportes, Infraestruturas e Trabalho e Saúde.
No final de semana, Kurz já havia anunciado o rompimento de sua coalizão com o partido de extrema-direita e sugerira ao presidente austríaco Alexander Van der Bellen uma eleição antecipada. O escândalo de corrupção pôs fim a uma aliança de direita vista como preocupante na Europa Central por analistas políticos. Extremista, o FPÖ fora fundado por oficiais da SS nazista. O episódio deverá impactar o eleitora austríaco nas eleições para o Parlamento Europeu, na próxima semana.
Kurz considerou a permanência de Kickl no governo incompatível com o desenvolvimento da investigação sobre o vídeo, filmado secretamente em uma mansão em Ibiza, Espanha, em 2017. Nas imagens, o ex-vice-primeiro-ministro aparece participando de uma reunião com uma mulher que se apresenta como sobrinha de um oligarca russo.
No vídeo publicado pela imprensa alemã na noite de sexta-feira 17, uma semana antes das eleições para o Parlamento Europeu, Kickl oferece o direcionamento de contratos para determinada companhia em troca de apoio político e financeiro.
“Foi burro, foi irresponsável e foi um erro”, disse Strache à imprensa, enquanto tentava conter as lágrimas ao pedir perdão a sua esposa e aos demais presentes. Ele sustentou, contudo, não ter feito nada ilegal e se disse vítima de um “assassinato político direcionado”.
Durante os 18 meses em que durou a coalizão no poder, o vice-premiê esteve no centro de muitas polêmicas. Quando assumiu o cargo, provocou um escândalo em nível nacional ao ordenar que se revistasse a sede dos Serviços de Segurança Interna (BVT), onde foram apreendidos inúmeros documentos confidenciais.
Lição a aprender
Nesta segunda-feira, Kurz pediu a todos os partidos da oposição, incluindo da extrema-direita, que “garantam a estabilidade” do país, abalado pelo colapso da coalizão.
A direita conservadora de Kurz e a direita nacionalista, de tendência eurofóbica, incorporada pelo FPÖ, mantêm linha dura em questões como a imigração.
A aliança entre os líderes dos dois partidos era usada como modelo por outras legendas extremistas em toda a União Europeia (UE). As formações nacionalistas multiplicaram seu sucesso eleitoral nos últimos anos no bloco, e esperavam se fortalecer no Parlamento Europeu, após as eleições que serão realizadas entre 23 e 26 de maio.
Mas, com a crise política provocada pelo “Ibizagate”, os líderes políticos europeus pediram que não se vote na extrema-direita nessas eleições, consideradas fundamentais para o futuro da Europa.
O chefe dos conservadores europeus, o alemão Manfred Weber, insistiu que se deve aprender “claramente a lição: não devemos dar a estes radicais a menor influência na nossa Europa”.
A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu os eleitores resistirem aos “políticos que estão à venda”, em uma referência indireta ao escândalo austríaco.
(Com AFP)