A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, está perto de fechar um acordo com o Partido Democrático Unionista (DUP, na sigla em inglês), da Irlanda do Norte. A premiê se encontrou nesta terça-feira com a líder da legenda, Arlene Foster, para discutir a aliança que dará aos conservadores um governo de maioria após o fracassado resultado das urnas da semana passada.
“As discussões com o governo estão indo bem”, disse Foster no Twitter. “Esperamos poder levar este trabalho a uma conclusão bem-sucedida em breve.”
A premiê britânica apostou em uma eleição antecipada na tentativa de alargar a base aliada no Parlamento e fortalecer seu governo para as negociações sobre o Brexit, mas os eleitores britânicos reduziram o número de cadeiras dos “tories”, retirando deles a capacidade de governarem sozinhos o país.
A aliança com o partido protestante liderado por Foster, no entanto, cria o risco de desestabilizar o equilíbrio político na Irlanda do Norte. O acordo arrisca complicar a frágil paz no país, onde os governos britânico e irlandês agem como mediadores imparciais entre os grupos católicos e protestantes. O ex-premiê britânico John Major disse temer que um pacto com o DUP ressuscite a violência na província quase duas décadas
O acordo também deve ter impactos significativos sobre o Brexit, elevando a possibilidade de que May tenha que perseguir um acordo menos duro com União Europeia do que o defendido antes da eleição, quando prometeu a saída do livre mercado e do princípio de livre circulação na região.
O DUP, que recebeu dez assentos nesta eleição, é um partido socialmente conservador que apoia a separação da União Europeia mas deseja manter uma fronteira “sem fricção” com a República da Irlanda após o processo. O partido também defende outros temas que vão de encontro com as pretensões conservadoras de May, como o fim dos cortes nos serviços públicos.
Discurso da rainha
Estava previsto que a rainha Elizabeth II abriria de maneira formal a nova legislatura na próxima segunda-feira, com a leitura do programa do governo de May. No entanto, como a primeira-ministra ainda não garantiu apoio necessário, o discurso deve ser adiado.
“Coalizão do caos”
Em seu primeiro discurso na Câmara dos Comuns após o revés sofrido nas urnas, May pediu, nesta terça-feira, que os deputados tenham espírito de unidade nacional.
“Em um momento no qual enfrentamos desafios complicados, vamos nos manter lado a lado no espírito de unidade nacional para que nosso país continue seguro e para construir um futuro mais sólido, mais justo e mais próspero para todos”, afirmou.
A primeira-ministra alertou que há partes do Reino Unido que seguem divididas após o pleito e que o “dever político” compartilhado pelos parlamentares é colaborar para “superar essas divisões”.
O líder da oposição, Jeremy Corbyn, questionou a capacidade de May oferecer ao país uma liderança “forte e estável”, como prometeu na campanha eleitoral. “É obrigatório nessas ocasiões parabenizar a primeira-ministra que retorna à Câmara dos Comuns e assim o faço”, disse Corbyn. No entanto, o líder trabalhista alertou que o pacto que May negocia com os unionistas da Irlanda do Norte ameaça criar uma “coalizão do caos”.
May discursou depois de o conservador John Bercow ter sido reeleito sem oposição como presidente da Câmara dos Comuns pela terceira vez consecutiva. Os parlamentares permaneceram em silêncio quando o deputado “tory” Ken Clarke, o mais velho do Legislativo, questionou em voz alta se alguém se opunha à nomeação.
“Parece que estamos destinados a atravessar tempos que nos colocam à prova, e eu me ofereço como um presidente da Câmara dos Comuns já testado”, indicou Bercow, que ocupa o posto desde 2009.
A posição unânime, no entanto, foi contestada há poucos meses, quando diversos deputados conservadores iniciaram um processo para submeter Bercow a uma moção de confiança por sua postura em relação ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O presidente da Câmara dos Comuns se opôs a um discurso de Trump no Palácio de Westminster – sede do parlamento – em uma futura visita do republicano ao Reino Unido.
(com Reuters e EFE)