Irã dá dois meses para UE salvar acordo nuclear e anuncia transgressão
Teerã pressiona países europeus a obter dos EUA a eliminação de sanções e liberta marinheiros do petroleiro Stena Impero
O presidente do Irã, Hassan Rohani, deu um novo prazo de dois meses para os países da União Europeia (UE) “salvarem” o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), o acordo nuclear firmado em 2015. Apesar de reconhecer que as negociações com os europeus estão avançando, Rohani avisou que seu país irá transgredir outros compromissos do JCPOA até esta quinta-feira, 5.
O Irã já cometeu duas transgressões ao acordo nuclear. No início de julho, Teerã anunciou o aumento das reservas de urânio enriquecido além do limite de 300 quilos estabelecido pelo pacto. Pouco tempo depois, revelou que enriquecera o urânio a 4,5%, um índice acima do permitido pelo acordo. A próxima etapa, mantida em segredo, terá “efeitos extraordinários”, segundo Rohani.
“Acho que é improvável chegarmos a um resultado com a Europa ainda hoje ou amanhã. A Europa terá outros dois meses para cumprir seus compromissos”, disse Rohani na televisão estatal. “Se no passado estávamos em desacordo sobre 20 temas com os europeus, hoje há três temas. Muitos foram resolvidos, mas não alcançamos um acordo final”, completou.
Rouhani havia ameaçado adotar novas medidas até 5 de setembro. Somente recuaria se os países europeus signatários do acordo, conhecidos como E3 (Reino Unido, França e Alemanha), oferecessem maneiras de contornar as sanções impostas pelos Estados Unidos após a saída unilateral americana do acordo.
A França ofereceu ao Irã uma linha de crédito no valor de 15 bilhões de dólares, tendo como garantia as receitas do petróleo iraniano, em troca do comprometimento de Teerã com o JCPOA e a manutenção da paz na região do Golfo Pérsico, por onde 20% do petróleo transita. Mas o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, disse que exceções dos Estados Unidos nas sanções impostas ao Irã seriam cruciais.
“O Irã voltará a aplicar completamente o JCPOA somente se puder vender seu petróleo e se beneficiar plenamente das receitas dessas vendas”, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores, Abas Araghchi, citado pela agência de notícias estatal Irna. “A proposta francesa vai nesse sentido”, completou.
Crise dos petroleiros
Também nesta quarta-feira, as autoridades iranianas anunciaram a libertação de mais 7 marinheiros do navio petroleiro Stena Impero, capturado no estreito de Hormuz em julho. Segundo Teerã, o navio de bandeira britânica teria violado leis internacionais. O Reino Unido nega essa versão.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Abbas Mousavi, explicou que alguns dos tripulantes foram libertados e autorizados a deixar o navio, que se encontra no porto meridional da cidade de Bandar Abbas.
A captura do Stena Impero e dos seus 23 tripulantes pela Guarda Revolucionária Iraniana gerou uma crise diplomática entre Irã e Reino Unido, assim como um aumento da tensão no Golfo Pérsico.
Mousavi comentou que a decisão foi adotada após uma revisão da situação consular e das permissões individuais da tripulação, depois de levar em conta questões humanitárias. “Não temos nenhum problema com a tripulação e o capitão do navio. O navio foi detido por violar as leis, e é natural deter a tripulação”, disse.
A captura do Stena Impero veio em meio ao aumento das tensões no Golfo Pérsico e pouco tempo depois da apreensão do petroleiro Grace 1, agora conhecido como Adrian Darya 1, pelas autoridades em Gibraltar — território ultramarino ao sul da Espanha que pertence ao Reino Unido — sob acusações de violar sanções europeias impostas à Síria.
O Adrian Darya 1 foi liberado em agosto pela Justiça em Gibraltar, apesar da tentativa americana de impedir essa decisão. Segundo o governo iraniano, o navio foi vendido junto com sua carga, o que o impediria de decidir para onde a embarcação navegaria. Pouco depois de deixar o território ultramarino, porém, o navio rumou em direção à Síria e deixou de transmitir sua localização. Teerã ainda nega que o navio está seguindo para território sírio.
(Com Reuters, AFP e EFE)