EUA acusam Mianmar de atrocidades contra minoria muçulmana rohingya
Washington prometeu 185 milhões de dólares em ajuda humanitária aos refugiados; ONU trata caso como genocídio
Investigação do governo dos Estados Unidos concluiu que militares de Mianmar promoveram uma campanha planejada e coordenada de assassinatos e estupros em massa, além de outras atrocidades, contra a minoria muçulmana rohingya. Nesta segunda-feira 24, Washington prometeu ajuda de 185 milhões de dólares para os rohingya que fugiram de uma ofensiva do Exército de Mianmar no ano passado para Bangladesh.
A embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU), Nikki Haley, anunciou o financiamento para alimentos, água, assistência médica para os rohingyas durante uma reunião ministerial sobre a crise em Mianmar. O encontro se deu à margem da reunião da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
A ONU, juntamente com os Estados Unidos e seus aliados ocidentais, acusaram as forças armadas de Mianmar de empreender uma campanha de limpeza étnica contra os muçulmanos rohingya, a quem esse país também nega direitos de cidadania.
Mais de 700.000 se refugiaram em Bangladesh, com medo de retornar à majoritariamente budista Mianmar, apesar de ambos os países terem firmado um acordo de repatriação.
O relatório do Departamento de Estado americano pode ser usado para justificar novas sanções dos Estados Unidos ou outras medidas punitivas contra autoridades de Mianmar, disseram autoridades americanas. O documento, no entanto, não descreve a repressão como genocídio ou como crime contra a humanidade.
As descobertas são resultado de mais de 1.000 entrevistas com homens e mulheres rohingyas em campos de refugiados em Bangladesh. “O estudo revela que a violência recente no Estado de Rakhine foi extrema, generalizada, em larga escala e aparentemente direcionada tanto a aterrorizar a população quanto a forçar a retirada de residentes da etnia rohingya”, diz o relatório de vinte páginas. “O escopo e a escala das operações militares indicam que elas foram bem planejadas e coordenadas”.
Os sobreviventes descreveram em detalhes devastadores o que haviam testemunhado, incluindo soldados matando bebês e crianças pequenas, atirando em homens desarmados, e vítimas sendo enterradas vivas ou jogadas em valas ou covas coletivas. Eles descreveram agressões sexuais e estupros de mulheres rohingyas conduzidos por militares de Mianmar, muitas vezes em público.
Uma testemunha descreveu que quatro meninas rohingyas foram sequestradas, amarradas com cordas e estupradas por três dias. Elas foram deixadas sangrando muito e “quase mortas”, de acordo com o relatório.
Grupos de direitos humanos e ativistas rohingyas dizem que o número de mortos chega a milhares. A operação militar teria sido uma reação a ataques de insurgentes muçulmanos rohingyas contra forças de Segurança no Estado de Rakhine, em agosto de 2017.
Os resultados da investigação dos Estados Unidos foram publicados quase um mês depois de uma equipe de investigadores da ONU emitir seu próprio relatório acusando os militares de Mianmar de atuarem com “intenções genocidas”. As Nações Unidas pediram ao governo que abra processos contra cinco generais por terem orquestrado os mais graves crimes de acordo com as leis internacionais.
Os militares de maioria budista de Mianmar negam as acusações de limpeza étnica e dizem que suas ações eram parte de uma luta contra o terrorismo. O chefe do Exército de Mianmar, Min Aung Hlaing, afirmou nesta segunda-feira que nenhum país, organização ou grupo tem o “direito de interferir e tomar decisões sobre a soberania de um país”.
Um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado disse que o objetivo da investigação americana não é determinar genocídio, mas sim documentar as atrocidades para orientar políticas futuras que visam responsabilizar os perpetradores.
(Com Reuters e AFP)