Em um anúncio surpresa em sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira, 22, o presidente da China, Xi Jinping disse que o país, um dos maiores emissores de carbono do mundo, vai zerar as emissões líquidas de CO2 até 2060.
Em 2015, a China foi um dos 195 países a assinaram o acordo de Paris, comprometendo-se a apresentar novos planos para reduzir suas emissões até o final deste ano. Patricia Espinosa, autoridade de mudanças climáticas das Nações Unidas, disse no dia 2 de setembro que cerca de 80 países cumpriram o prazo, mas o futuro do gigante asiático ainda era incerto.
Segundo a revista americana The Economist, a China pode ter decidido divulgar o plano para melhorar sua imagem. Contudo, as metas podem não ser realistas. Enquanto seu objetivo de impedir o aumento da produção de CO2 até 2030 não é nada assombroso, já que especialistas projetam desde 2014 que as emissões poderiam atingir o pico em 2025, visar a neutralidade do carbono até 2060 é outra questão.
No ano passado, líderes europeus estabeleceram uma meta para a “neutralidade climática” até 2050. Os Estados Unidos mantiveram silêncio sobre o assunto. Já Xi, em seu discurso nas Nações Unidas, escolheu suas palavras com cuidado, referindo-se à neutralidade do carbono, não do clima. Ou seja, a meta se aplica apenas às emissões de dióxido de carbono, não outros gases causadores do efeito estufa, como o metano.
Pensando positivamente, o compromisso da China pode modificar as previsões anteriores do aquecimento global até 2100, já que é fonte de 27% das emissões globais de CO2. O grupo de pesquisa Climate Action Tracker calcula que, se todos os governos cumprissem às promessas do acordo de Paris, o planeta aqueceria, em média, 2,7ºC até 2100 em comparação com as temperaturas pré-industriais. O anúncio de Xi pode levar o número a 2,4ºC.
Ainda é um aquecimento maior que o estabelecido no acordo de Paris, mas a China não está agindo sozinha. Todos os olhos estão agora nos eleitores americanos: se o democrata Joe Biden vencer a eleição presidencial americana, em 3 de novembro, os três principais emissores do mundo – China, Estados Unidos e União Europeia, que respondem por cerca de 45% das emissões globais – poderiam colocar o limite de aquecimento acordado em Paris “firmemente ao alcance”, segundo o Climate Action Tracker.
As emissões de CO2 americanas atingiram o pico entre 2005 e 2007 e caíram cerca de 14% na década seguinte. As da União Europeia atingiram o pico em 1990 e, desde então, diminuíram 21% (o objetivo é chegar aos 45% até 2030). Enquanto isso, a China está sugerindo que atingirá os mesmos objetivos em apenas 30 anos, sem especificar seu plano.
O país também não disse se sua nova meta se refere apenas às emissões domésticas ou se inclui investimentos em carvão fora das fronteiras.
Alcançar o objetivo em 2060 exigirá uma completa descarbonização da eletricidade da China, onde mais de 60% da energia ainda vem da queima de carvão. Mesmo assim, o país continua construindo usinas termelétricas a carvão: nos primeiros seis meses de 2020, construiu mais de 60% das novas instalações do mundo – infraestruturas planejadas para permanecer utilizáveis por décadas.
Por outro lado, o gigante asiático já é afetado pelo aquecimento global com enchentes e secas. Além disso, pode implementar mudanças de maneiras mais incisivas por conta de seu sistema de governo, já que medidas impopulares, como a produção de energia nuclear, não terão forte oposição pública – sua capacidade de geração nuclear mais que dobrou entre 2014 e 2019.
Mesmo assim, é improvável que a China consiga atingir sua meta sem investir na captura de CO2, armazenando-o no subsolo, diz a Economist. Cortar emissões dos setores industriais e de transportes pesados também é um desafio, sem tecnologias disponíveis. O plantio de novas florestas pode ajudar a absorver o carbono, mas precisaria ser em uma escala colossal. Mais grave, contudo, é a própria falta de planejamento de Xi.