O Reino Unido apresentou na manhã desta quarta-feira a carta que oficializa o início de seu processo de saída da União Europeia (UE), após 44 anos de participação. Assinado pela primeira-ministra britânica, Theresa May, o documento de seis páginas que informa o bloco sobre a decisão foi levado ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
A entrega da carta de separação foi feita pelo embaixador do Reino Unido na UE, Tim Barrow, em Bruxelas e ativa o artigo 50 do Tratado de Lisboa, o primeiro passo oficial perante o bloco sobre o Brexit. A partir da entrega do documento, começa a contagem regressiva para o “divórcio” britânico, previsto para o dia 29 de março de 2019, um prazo de dois anos de negociações.
Em fala ao Parlamento após o anúncio da ativação do artigo, May mostrou um tom conciliatório e quase “pró-europeu”. “Em acordo com o desejo do povo, o Reino Unido está deixando a União Europeia. Este é um momento histórico, do qual não pode haver volta”, afirmou a premiê. May acrescentou que deseja formar uma “nova, especial e profunda relação com a UE” e que “talvez mais do que nunca, o mundo necessite dos valores liberais e democráticos da Europa – valores que o Reino Unido compartilha”.
“Quando eu sentar na mesa de negociações nos próximos meses, vou representar cada pessoa em todo o Reino Unido – jovens e velhos, pobres e ricos, cidades, país e todos os vilarejos e aldeias neste meio”, disse May aos parlamentares. “E sim, os cidadãos da UE que fizeram deste país sua casa”, declarou.
Em resposta à entrega da carta, Tusk falou brevemente à imprensa em Bruxelas e disse que “não há razão para fingir que é um dia feliz”. O presidente do Conselho Europeu afirmou, porém, que está confiante que os 27 países restantes no bloco têm as ferramentas necessárias para planejar uma saída ordenada dos britânicos e que durante os dois anos de negociações nada mudará. “Essencialmente, isto é sobre controle de danos. Nosso objetivo é simples: minimizar os custos para os cidadãos da UE, negócios e estados-membro”, afirmou Tusk. “Nós já sentimos sua falta. Obrigada e adeus”.
A carta
Escrita pela premiê, que analisou o documento junto a membros do governo na terça-feira, a carta segue a mesma linha do discurso de May no Parlamento. “Como eu disse antes, esta decisão não é uma rejeição dos valores que compartilhamos como colegas europeus, nem uma tentativa de ferir a União Europeia ou seus membros restantes”, aponta o texto. “Nós estamos deixando a UE, mas não a Europa”.
Além do anúncio protocolar que ativa o artigo 50, a carta também detalha sete princípios britânicos para manter as negociações amigáveis, organizadas e favoráveis ao Reino Unido e à UE. Entre eles, May destaca que é preciso “colocar os cidadãos em primeiro lugar”, “empenhar-se de forma respeitosa e construtiva um com o outro” e iniciar conversas sobre detalhes técnicos logo, mas “priorizando os desafios maiores”.