A União Europeia está trabalhando em uma lista de países cujos cidadãos poderão visitar o bloco a partir do dia 1º de julho, em tentativa de reavivar a indústria do turismo. De acordo com rascunhos obtidos pelo jornal americano The New York Times nesta terça-feira, 23 – e como previu a VEJA anteriormente –, o Brasil, assim como os Estados Unidos e a Rússia, ficaram de fora, devido ao mau desempenho no controle da pandemia de coronavírus.
Os países europeus estão discutindo duas listas de visitantes em potencial. Ambas incluem a China, além de nações em desenvolvimento como Uganda, Cuba e Vietnã. As duas listas também excluem o Brasil e os Estados Unidos, entre outros países que foram considerados perigosos por causa da propagação da Covid-19, doença respiratória causada pelo vírus.
As listas preliminares têm com base em uma série de critérios epidemiológicos. A referência principal é número médio de novas infecções nos últimos 14 dias a cada 100.000 pessoas – atualmente 16 para toda União Europeia.
A primeira lista, mais restrita, contém 47 países e inclui apenas nações com uma taxa de infecção menor que a média da União Europeia (16 novos casos a cada 100.000 pessoas). Já a segunda tem 54 países e também contempla aqueles com taxas apenas um pouco piores que a do bloco, chegando a 20 novos casos por 100.000 pessoas.
No Brasil, são 190 a cada 100.000 habitantes, enquanto para os Estados Unidos são 107 e, para a Rússia, 80, segundo o Times.
A classificação de brasileiros como indesejáveis é um reflexo direto da gestão da pandemia pelo presidente Jair Bolsonaro, que repetidamente minimizou os riscos, recusando-se a estabelecer medidas amplas de contenção. Atualmente, o Brasil está em segundo lugar no ranking mundial de número de casos e de óbitos pela doença, com mais de 1 milhão de infectados e 51.271 mortos – chegando a registrar mais de 54.800 casos diários na sexta-feira 19.
O país só fica atrás dos Estados Unidos, que tem mais de 2,3 milhões de casos e mais de 120.000 mortes. Atualmente, a nação registra de 20.000 a 30.000 infecções a cada 24h, números semelhantes aos do Brasil.
A restrição ocorre apesar do turismo na Europa ser muito popular entre os brasileiros. Entre os países mais buscados estão Reino Unido, Espanha, Portugal, França e Itália. Mesmo com o euro valendo R$ 4,50 em 2019, o interesse em viajar para a Europa só aumentou. Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que 887 mil pessoas saíram do Brasil para o Velho Continente no ano passado, um recorde de passageiros.
Em relação aos Estados Unidos, apesar de milhões de turistas americanos visitarem a Europa todo verão, autoridades europeias disseram que é altamente improvável que uma exceção seja feita. Segundo o Times, os critérios para a criação da lista de países aceitáveis foram o mais científico possível. Incluir o país representaria um “desdém completo” do raciocínio do bloco.
Espera-se que uma decisão final sobre a reabertura das fronteiras seja feita no início da próxima semana, antes que o bloco seja reaberto em 1º de julho. A lista será revisada a cada duas semanas com base nas taxas de infecção atualizadas, o que significa que Brasil e Estados Unidos poderiam ser adicionados posteriormente.
Colcha de retalhos
A criação de uma lista comum faz parte de um esforço da União Europeia para reabrir em conjunto as fronteiras entre as 27 nações participantes. Viagens e comércio gratuitos entre os países membros são um princípio central do bloco – profundamente ferido durante a pandemia.
O surto de coronavírus levou a políticas nacionais fragmentadas, sem acordo a respeito das fronteiras: alguns estados membros que precisam desesperadamente de turistas correram para aceitar viajantes de fora da Europa, outros tentaram criar “corredores” de viagem entre certos países. O bloco não poderá forçar membros a adotar a lista, para eliminar a colcha de retalhos, mas autoridades alertam que o não cumprimento do acordo pode levar à reintrodução de fronteiras dentro da União Europeia.
O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças alertou os negociadores que os números dos casos dependem da veracidade dos dados e testes em cada país, medida mais difícil de calcular.
A China, por exemplo, foi acusada de ocultar informações e manipular o número de infecções liberadas ao público, e países em desenvolvimento têm testes limitados. Embaixadas europeias ao redor do mundo podem ser convocadas para opinar sobre os dados de cada país, o que pode reduzir a lista.