O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton já não está no centro dos holofotes — e é natural que não esteja, aos 77 anos, há 22 longe da Casa Branca. Mas ele cumpre com zelo as funções de uma atividade para lá de complicada, a de ex-presidente americano (algo que Donald Trump, convenhamos, faz de modo histriônico, para dizer o mínimo). Na semana passada, em paralelo com a ruidosa Assembleia Geral da ONU, ele comandou um novo capítulo da Iniciativa Global Clinton, ideia lançada em 2005 e que atrai personagens de relevância, mas um tantinho apartados da ribalta. Desta vez, entre os líderes convidados havia nomes como Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, e o ex-premiê britânico Tony Blair. Mas houve um convidado especialíssimo, à vontade na transmissão por videoconferência, em 18 de setembro: o papa Francisco. A pergunta inicial de Clinton foi direto ao ponto, tradução de preocupações aparentemente comezinhas, só que não: “O que as pessoas comuns podem fazer para resolver os enormes problemas da sociedade?”. A resposta do pontífice: “Precisamos de uma grande e partilhada assunção de responsabilidades”, disse. “As dificuldades podem trazer à tona o que há de melhor ou de pior em nós. É aí que reside o nosso desafio: combater o egoísmo, o narcisismo, a divisão, com generosidade e humildade.” O religioso jesuíta aproveitou, é claro, para demonstrar preocupações com as mudanças climáticas e anunciou o lançamento, em outubro, de uma encíclica que tratará dos nós ecológicos — a Laudato Si’, de oito anos atrás, já exortava os cuidados com “o nosso lar comum”. Poucos papas estiveram tão atentos aos problemas contemporâneos quanto Francisco — e Clinton sabe disso.
Publicado em VEJA de 22 de setembro de 2023, edição nº 2860