Não foi a primeira vez que um jogador de futebol esteve na mira do racismo — mas nunca houve uma reação tão firme como a de Vinicius Jr., atacante de 22 anos do Real Madrid e da seleção. Em um vídeo de dois minutos postado em suas redes sociais, ele foi direto ao ponto: “Dizem que a felicidade incomoda. A felicidade de um preto brasileiro na Europa incomoda muito mais”. E avisou, ao contestar a frase idiota de um empresário espanhol que, na véspera, o acusara de “macaquices”, sugerindo que, se quisesse comemorar os gols com dança, o fizesse no Sambódromo: “São danças para celebrar a diversidade cultural do mundo. Aceitem, respeitem ou surtem — eu não vou parar”. E não parou. Na vitória do Real sobre o Atlético de Madri por 2 a 1, dias depois, ele se juntou a outro brasileiro, Rodrygo, que marcara um dos gols, e bailou como sempre. A reação de Vinicius Jr., como resposta à estupidez, ecoou pelas redes sociais, fez com que outros jogadores se posicionassem, obrigou o agressor a pedir desculpas e parece ter servido como marco. Ele foi ainda mais inteligente ao deixar nítido, naquele vídeo já histórico, que o preconceito não brotou apenas quando atravessou o Atlântico — vem de antes, quando surgiu nas categorias de base do Flamengo, em busca de um sonho finalmente alcançado, apesar dos olhares tortos de quem mede os outros pela cor da pele. A postura de Vinicius Jr. talvez não reescreva a história, é um pequeno gesto contra um crime insidioso, mas ao menos durante alguns dias os racistas dançaram.
Publicado em VEJA de 28 de setembro de 2022, edição nº 2808