DOHA – Sim, o calendário é apertado. O Brasil joga contra Camarões na sexta e, já na segunda, tem a partida das oitavas. Há muitas contusões, como as de Neymar, Danilo e Alex Sandro. Os bons fisiologistas ensinam: descansar é muitas vezes mais decisivo do que treinar. Planejamento é inteligência. O mar não está para peixe e nem o deserto para os camelos. Os argumentos a favor da decisão de levar o time B do Brasil a campo são nítidos, e não seria difícil elencar outros tantos a mais. Tite e a comissão técnica, é provável, podem vir a ser elogiados pela iniciativa. Contudo, o torcedor tem todo o direito de estar decepcionado, em não ver graça nenhuma numa seleção escalada só com reservas (por melhores que sejam). É bom tomar nota: Ederson; Daniel Alves, Éder Militão, Bremer e Alex Telles; Fabio, Fred (ou Bruno Guimarães) e Rodrygo (ou Everton Ribeiro); Antony, Gabriel Martinelli e Gabriel Jesus (ou Pedro).
Qual o problema? Na prática, nenhum, contra um adversário supostamente frágil. Mas a quebra a magia de uma Copa do Mundo, torneio curto que, no imaginário popular, resulta em escalações cantadas em verso e prosa. Times com começo, meio e fim, que crescem ao longo da disputa. É covardia lembrar, a título de exemplo, dos onze ou doze de 1970: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Tostão; Pelé, Jairzinho e Rivellino, com Caju como o décimo segundo jogador. Mas nem mesmo em 1998, na partida contra a Noruega, a última da primeira fase, Zagallo pôs reservas no gramado. Rivaldo e Ronaldo jogaram – e ainda assim o Brasil perdeu por 2 a 1. Nem se imaginou tê-los fora da partida, até porque Ronaldo sonhava com a artilharia da Copa (e por que não conceder essa chance a Richarlison, agora em 2022?).
Tem um quê de saudosismo na defesa da permanência dos titulares, algo de infantil (saudade do Jairzinho na Copa de 1970 estufando a rede em todas as seis partidas), mas é bom saber os nomes de um time de cor e salteado. Além do mais, há riscos. Basta ver o que aconteceu com a França, já classificada. Levou os reservas a campo e perdeu para a Tunísia por 1 a 0. Continua na Copa, claro, ficou em primeiro lugar no grupo – mas esse resultado os tunisianos nunca esquecerão, e muito provavelmente os franceses também não, caso sejam eliminados antes da final. O tiro saiu pela culatra. Mbappé e Griezmann ainda entraram no segundo tempo, mas não funcionou, ou não deu tempo de empatar.
É o que temos, e Brasil contra Camarões terá gostinho de amistoso. Não vale dizer, na sexta-feira, que fulano ou sicrano foram bem, beltrano foi mal, porque estamos em plena Copa do Mundo. E a competição que teria sete jogos, até a final, ficou com apenas seis – a não ser que Camarões apronte como aprontou a Tunísia. Não deve acontecer, mas é bom estar atento. Melhor seria se Tite definisse uma equipe misturada com titulares e reservas. Seria bom ver Richarlison e Casemiro de novo. Na segunda-feira, dia 5, eles voltam.