Aquele lance no Maracanã em 1950 ainda hoje ecoa pelo país — afinal, de quem mesmo foi o erro no segundo gol do Uruguai, de Alcides Ghiggia, no 2 a 1 que faria o país inteiro chorar? O goleiro Barbosa foi condenado em vida e morreu injustiçado como se fosse o culpado pela tragédia do Maracanazo. No Brasil, as derrotas no futebol são cruéis. Por muito tempo, nos bares, nos estádios, nas redes sociais, se falará daquele contra-ataque da Croácia a quatro minutos do final da prorrogação — o empate que marcaria o início do fim da canarinho na Copa do Catar. O que faziam sete jogadores no campo de ataque se o placar marcava 1 a 0 e a seleção caminhava para a sonhada semifinal contra a Argentina?
Uma frase, revelada pela leitura labial da transmissão pela TV, é a mais perfeita tradução daquele instante permanente. “Ei, ei! Não tem necessidade de subir. Tá 1 a 0! Um a 0, faltam cinco minutos. Vai subir por quê?”, disse Neymar para o volante Fred. Foi em vão. A eliminação nos pênaltis fez os jogadores caírem em pranto. O treinador Tite, atordoado, deu as costas e caminhou para o vestiário. Em 2026, o Brasil completará 24 anos sem a taça — em seca só igualada entre 1970, o ano do tri, e o tetra, de 1994. Sim, é só futebol e vida que segue, mas ficou um gosto amargo depois do primeiro mundial disputado nos meses de novembro e dezembro.
Para Neymar, especialmente, o rei Sol, o centro das atenções, o desfecho foi especialmente doloroso. No primeiro tempo da prorrogação ele fez o gol salvador que o levaria a um olimpo temporário. O camisa 10 do PSG chegou ao Catar como uma das estrelas do torneio, ao lado de Lionel Messi e Kylian Mbappé, a trinca do PSG. O argentino e o francês alcançaram a final. Aos 30 anos, o menino que queria ser Pelé mas não chegou lá talvez esteja em idade avançada demais para disputar mais uma Copa do Mundo, embora Messi tenha desfilado nos estádios do deserto como nunca aos 35 anos. Depois da derrota, Neymar resumiu o sincero lamento: “Passei muito mal após o jogo. É difícil assimilar tudo o que está acontecendo. Parece que é um pesadelo. Não dá para acreditar no que está acontecendo. Vou ter de tirar conforto disso tudo com a família. Essa derrota vai doer por muito tempo”. Dias depois ele organizou uma festa privada em São Paulo.
Publicado em VEJA de 28 de dezembro de 2022, edição nº 2821