Segure o fôlego. Às 20h37 ele venceu os 200 metros nado borboleta. Às 21h35 subiu ao pódio para ouvir a plateia cantar a Marselhesa e entoar os gritos de “Leon, Leon”. Allons enfants! Às 22h31 caiu na piscina de novo para levar o ouro nos 200 metros nado de peito. O relógio cravou 22h46 e lá estava o garotão de 22 anos de volta ao andar mais alto da plataforma. Leon Marchand teve noite de Michael Phelps. Aux armes, citoyens!, urrava o público, diante do primeiro-ministro demissionário Gabriel Attal. São três medalhas douradas já, três recordes olímpicos, com a dos 400 metros medley do início da semana. Nascido em Toulouse, de sorriso aberto, de meninão, Leon sai da Olimpíada como um dos grandes nomes – certamente como o principal destaque francês, resultado de habilidade natural, genética e ciência.
Ele treina nos Estados Unidos com o técnico de Phelps, Bob Bowman. Os segredos: ninguém tem virada tão perfeita quanto ele, capaz de estender ao máximo o mergulho, sem descer muito e voltar à tona sem quebrar o ritmo. Vê-lo por meio das câmeras subaquáticas é uma aula de mecânica do nado, uma lição de anatomia. Há, no grupo de apoio, um brasileiro, Ricardo Peterson, especialista em biomecânica. Bowman tratou também de desenvolver a força e a explosão do rapaz. Ela será necessária para assegurar uma quarta láurea, nos 200 metros medley.
Com 1m87 e 77 quilos, não se pode compará-lo fisicamente a Phelps, que mede 1m93. As mãos finas e longas, acreditem, o auxiliam a ondular. Parece miúdo para quem é especialista em borboleta e peito. No ano passado, ele bateu o recorde mundial de Phelps nos 400 metros medley, marca estabelecida nos Jogos de Pequim, em 2008. “Eu me divirto nadando”, diz. Mas sabe também viver e cuidar da cabeça. Estuda informática na Faculdade do Estado do Arizona. Adora aviação. Tem apoio de um psicólogo esportivo que o acompanhou na aventura americana. Mas o que o faz diferente é a simpatia e a simplicidade. Entrou na Vila dos Atletas como criança, deslumbrado com nomes conhecidos como Rafael Nadal. Paris 2024 ficará marcado por Leon Phelps…. ops, Marchand. Não ficou mal vê-lo entrar na piscina, antes da primeira prova, ao som de “Fio Maravilha, nós gostamos de você”, clássico de Jorge Ben Jor, conduzida pelo DJ da Arena de La Défense. Ou então, como na versão imposta pelos advogados de Fio: “Filho maravilha, nós gostamos de você”. Os franceses adotaram Leon.