As escolas públicas e particulares não conseguiram atingir as metas impostas pelo Ministério da Educação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Os alunos do nono ano do Ensino Fundamental obtiveram um Ideb de 4,9, sendo que o objetivo final era de 5,2. Já o desempenho dos alunos do Ensino Médio ficou em 4,2, sendo que a meta nacional era de 5,0. Os dados foram divulgados nessa terça-feira, 15, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
O Ideb é calculado levando-se em consideração a taxa de aprovação dos alunos e o desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), prova de alcance nacional, aplicada a cada dois anos para medir a proficiência em matemática e língua portuguesa dos estudantes brasileiros que estão no quinto e nono ano do Ensino do Fundamental e no terceiro ano do Ensino Médio.
Os resultados mostram uma dificuldade tanto das escolas particulares quanto da rede pública em alcançar os resultados esperados, mesmo que tenha havido melhoras nos indicadores.
Nos anos finais do Ensino Fundamental, apenas sete estados brasileiros alcançaram a meta proposta para 2019: Amazonas, Piauí, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Paraná e Goiás. No entanto 22, das 27 unidades da federação aumentaram o Ideb. Segundo o INEP, o registro negativo foi a queda do IDEB
nos anos finais do ensino fundamental nos estados de Santa Catarina e Mato Grosso.
Já nos anos finais do Ensino Médio, apenas o estado de Goiás atingiu a meta. Doze estados alcançaram valores igual ou superior a 4,2, são eles: Rondônia, Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.
De maneira inédita, porém, quase todos os estados apresentaram melhora no indicador. A exceção foi Sergipe.
O Paraná obteve o maior aumento e cresceu 0,7 ponto, alcançando um Ideb de 4,4 no Ensino médio, passando São Paulo. “A gente conseguiu esse resultado com trabalho focado em sala de aula, oferecendo aulas melhores. Uma das principais medidas foi a Prova Paraná, para identificar rapidamente o que os alunos aprenderam e o que ficou para trás e mandar esses dados para cada professor”, explica Renato Feder, secretário de educação do estado, que chegou a ser cotado para ocupar o Ministério da Educação.
Avanços em matemática
O SAEB, antiga Prova Brasil, traça um retrato da educação no país. Segundo João Batista Araújo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, é possível destacar os seguintes pontos:
No ensino médio houve um ganho de 8,2 pontos em Matemática, de um total de 9,1 pontos obtidos desde 2005. Pernambuco, Distrito Federal, Santa Catarina e Paraná tiveram ganhos entre 12 e 14 pontos. Chama atenção o aumento da nota no ensino médio – próximo de oito pontos em matemática para a maioria das regiões, exceto no Norte.
Nas séries iniciais, o aumento médio da nota de matemática foi de 3,8 pontos. O ritmo de aumento que vinha se verificando nos anos anteriores perdeu fôlego em relação ao biênio anterior – exceto no Nordeste, onde o aumento na rede pública foi de sete pontos. Os estados que mais tiveram aumento foram Piauí e Alagoas com 9 pontos – ambos ainda se encontram entre os 10 estados com pior desempenho.
Já nos anos finais, o aumento médio foi de 4,5 pontos, expressivo face ao lento progresso desde 2005. Alguns estados cresceram bem acima da média nacional, com destaque para o estado do Ceará que aumentou a nota em sete pontos e passa a ser o 3° estado com maior média.
“Consideramos apenas os ganhos em Matemática porque são mais diretamente associados ao impacto das escolas e porque, a longo prazo, há uma forte correlação entre as notas de Língua Portuguesa e Matemática”, explica João Batista, que analisou os dados a pedido de VEJA.
Outro ponto destacado é a discrepância entre as redes públicas e particular de ensino. Enquanto os estudantes das escolas públicas das séries iniciais do Ensino Fundamental obtiveram nota média de 218,9 em matemática, os alunos das escolas particulares tiveram nota 251. Nos anos finais do Ensino Médio, a diferença foi de 266,2 para 331,2, respectivamente.
“O desempenho médio de um aluno do ensino médio da rede pública situa-se próximo ao de um aluno das séries finais da mesma rede pública e pouco acima do desempenho médio de um aluno de 5º ano das redes privadas. Esta situação repete-se em praticamente todas as unidades da Federação”, diz João Batista.
Ideb X SAEB
O relatório apresentado pelo Ministério da Educação (MEC) nesta terça-feira aponta o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica como principal indicador a balizar as políticas públicas da pasta. O INEP divulgou apenas os resultados parciais do SAEB, computando somente os índices por estado. O levantamento com dados dos municípios não foram apresentados.
“O que mais chama atenção é que a nova gestão do Ministério da Educação continue a usar o Ideb como indicador – uma vez que são notoriamente reconhecidas suas fragilidades no meio da comunidade acadêmica. O Ideb mistura dois indicadores – notas e aprovação, o que significa que um mesmo Ideb pode representar notas muito diferentes. Discutir aumentos do Ideb ajuda pouco ou nada a avançar o debate sobre a qualidade da educação no Brasil. E tira o foco do problema central – a qualidade”, explica João Batista.