Líder absoluta no varejo de joias nacional, a Vivara sofreu no segundo trimestre de 2020. Com as lojas fechadas em razão das medidas restritivas para conter a disseminação do novo coronavírus, o consumo de produtos não essenciais estagnou. Não foi diferente para a fabricante de joias, relógios e acessórios pessoais. A receita líquida da empresa recuou para 137,6 milhões de reais entre abril e junho, 54,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O lucro líquido também desabou, em dígitos alarmantes: o decréscimo foi de 101,1%, revertendo os resultados positivos do segundo trimestre de 2019 para um prejuízo de 1,7 milhão de reais em igual período deste ano. Ainda assim, o mercado financeiro se animou com as projeções para o futuro da empresa. As vendas virtuais da varejista se consolidaram no segundo trimestre, com avanço de 387%, e a flexibilização de horário de funcionamento do comércio fez com que a receita operacional da Vivara praticamente zerasse as perdas em agosto.
O desempenho do e-commerce da rede surpreendeu, mas não aconteceu por acaso. No fim de 2019, a empresa firmou um acordo com a Linx para desenvolver uma integração entre as lojas físicas e o sistema de vendas virtuais. Agora, colhe os frutos e vê sua presença de mercado avançar em relação à concorrência. “O crescimento do e-commerce nos deu uma visibilidade muito maior do quão grande pode ser esse canal. Ainda não sabemos em qual patamar isso vai se estabilizar, se será entre 20%, 25% ou até mais. O fato é que ele cresceu e não acreditamos que sua relevância já alcançada se retrocederá”, disse Marcio Kaufman, CEO da Vivara, em teleconferência com analistas nesta quinta-feira, 27. Segundo a empresa, dos pedidos realizados pela internet nos últimos meses, cerca de 30% eram clientes que ainda não compravam no site da Vivara e outros 30% eram de novos consumidores, aqueles que não tinham cadastro em qualquer um dos 259 pontos de venda da marca.
O executivo se disse surpreendido com a retomada acelerada das vendas nas lojas físicas, ao passo que o e-commerce da marca de luxo mantém avanço robusto mesmo após a flexibilização das medidas restritivas para o comércio varejista. Em maio, início da reabertura de lojas em alguns estados, a Vivara registrou queda de 60,3% em sua receita operacional em relação ao ano anterior. Mas esse número diminui consideravelmente com o passar do tempo. Em junho, o declínio foi de 36%. Julho e agosto registraram decréscimos mais tímidos: 10,3% e 0,6%, respectivamente. Vale ressaltar que o período considerado nos cálculos para o mês de agosto foi entre os dias 1º e 24. Ou seja, é provável que a empresa reverta o prejuízo ainda este mês. “Eu acredito que, com o passar do tempo, com as lojas operando em um horário maior e quando os efeitos do isolamento diminuírem, as lojas vão voltar a um patamar de vendas muito favorável”, afirmou Kaufman. A empresa deve retomar a expansão de sua operação em regiões onde ainda não está presente. “Em shoppings de cidades menores, quando nós abrimos uma loja, conseguimos atingir o break-even e obter retorno financeiro em um período muito curto”.
A despeito da possibilidade de se beneficiar dos avanços do ouro e da prata, que acumulam altas recordes nos últimos meses, a empresa adotou a política de sacrificar as margens e repassar o mínimo possível dos impactos dessa flutuação ao consumidor. Em março, a empresa suspendeu a operação de sua fábrica na Zona Franca de Manaus. A produção foi retomada de forma gradual no início de junho com o intuito de recompor os estoques das unidades. Kaufman acredita que, com a desvalorização do real e o avanço do Ouro, hoje cotado em 346 reais por grama, a demanda por joias como reserva de valor pode aumentar. “Esse é um dos motivos que explica as vendas acima do que prevíamos no início da pandemia. Mas eu acredito que, quando o Ouro se valoriza, mais clientes tendem a vê-lo como um produto de duração eterna, que é passado de mãe para filha”, disse. “A gente se mantém num posicionamento de preço adequado ao consumidor”.
Nos Estados Unidos, a icônica joalheria Tiffany & Co deu um alento a investidores a retomar o rumo da lucratividade. A joalheria viu suas vendas melhorarem gradativamente entre maio e julho, sobretudo na China. O e-commerce da empresa também registrou expansão agressiva: 123% durante seu segundo trimestre fiscal, mais que dobrando a participação do canal virtual em sua receita operacional em relação a igual período da temporada anterior. Entre maio e julho, as vendas globais da joalheria recuaram 29% — no primeiro trimestre, o recuo no faturamento havia sido de 45%. O retorno da rentabilidade é crucial para que a varejista consiga validar sua fusão com a Louis Vuitton, que apresentou uma oferta de 16,2 bilhões de dólares pela rede de joalherias centenária em novembro de 2019. O contrato para concretizar a fusão foi, recentemente, prorrogado até 24 de novembro.