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O jogo de cena dos holandeses para ameaçar o acordo entre UE e Mercosul

Parlamento dos Países Baixos se manifestou contra a ratificação da parceria, que enfrenta resistência do lobby do setor agrícola europeu

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h23 - Publicado em 4 jun 2020, 18h40
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  • As falas do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na fatídica reunião de 22 de abril sobre “passar a boiada” deram ânimo para lobistas do agronegócio europeu para melar o acordo de livre comércio firmado entre o Mercosul e a União Europeia, em junho do ano passado. A ofensiva resultou numa moção contrária à ratificação da parceria aprovada pelo parlamento dos Países Baixos. Nesta quarta-feira, 3, os deputados holandeses apontaram que o acordo vai enfrentar entraves políticos severos, graças à péssima imagem do Brasil no exterior, o que pode fazer, até mesmo, o trato não ser firmado. Os deputados argumentam que a ratificação do tratado poderia impactar ainda mais os desmandos ambientais na Amazônia, além de que, atestam eles, os escrutínios em relação às produções brasileiras não são tão severos quanto os europeus. Apesar das posições erráticas do ministro, a notícia não caiu bem na Esplanada dos Ministérios. Itamaraty, Ministério da Agricultura e Ministério da Economia entenderam a medida como pura hipocrisia.

    O desconhecimento em relação ao Brasil mostra-se um dos principais inimigos para a ratificação do negociado. A malfadada Operação Carne Fraca, em 2017, por exemplo, foi o estopim para a suspensão das exportações de proteína animal para os Estados Unidos, e pegou muito mal entre os europeus. Apesar das rígidas medidas fitossanitárias dos produtos brasileiros, agricultores europeus usam da má impressão para encampar suas ideias. O trabalho da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para firmar a parceria foi árduo — e a chefe da pasta vê-se como vítima de pressões externas, como o temor de produtores holandeses em relação à competitividade dos produtos brasileiros na Europa.

    Em uma reunião com a ministra da Agricultura dos Países Baixos, Carola Shouten, em janeiro, Tereza Cristina ouviu da colega europeia que o uso de defensivos agrícolas nas produções brasileiras a preocupava. A resposta veio por meio de dados. A ministra apresentou um levantamento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO, apontando que os Países Baixos são o país que proporcionalmente mais usa os chamados defensivos agrícolas em relação ao tamanho das produções. Os holandeses usam mais que o dobro de produtos que os brasileiros, 9,38 quilos por hectare, contra 4,31 quilos. Claro que as produções são diferentes, mas a hipocrisia responde-se com dados.

    A principal missão de membros do Ministério da Agricultura é botar panos quentes nas discussões diplomáticas e comprovar que o Brasil segue, sim, todos os preceitos para que o acordo seja, finalmente, firmado. Os ajustes jurídicos na papelada ainda estão sendo executados nos bastidores entre os representantes sul-americanos e europeus, portanto, os holandeses não conhecem os termos do acordo — que é positivo para os dois blocos, vale lembrar. Além disso, antes de ser submetido aos países membros da União Europeia, será ratificado pelo Parlamento Europeu. E será preciso jogar duro aqui porque, para a opinião pública de nariz em pé da Europa, parece que o Velho Continente está fazendo um favor para os sul-americanos. Mas não estão.

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    Ambos os continentes serão tremendamente beneficiados se, de fato, o acordo for ratificado. A medida tem por objetivo extinguir impostos de importação sobre mais de 90% dos produtos negociados por países-membros das duas regiões, o que permitirá uma expansão de 87,5 bilhões de dólares à economia nacional em quinze anos, bem como uma entrada de mais de 100 bilhões de dólares em investimentos diretos de nações europeias no mesmo período. Como apontou VEJA na edição da semana passada, a imagem do país em relação à manutenção do meio ambiente é o principal entrave econômico para o país. Se a gestão ambiental de Ricardo Salles preocupa, outro entrave é o poderoso lobby dos engravatados da Europa. Perdem todos.

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