A pressão inflacionária que vem corroendo o poder de compras das famílias tem impacto nas vendas. O comércio, por exemplo, registrou o segundo mês consecutivo de queda. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta quinta-feira, 11, o volume de vendas no varejo brasileiro recuou 1,3% em setembro na comparação como o mês anterior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o recuo é de 5,5%.
Segundo o gerente da Pesquisa Mensal do Comércio, Cristiano Santos, o fator inflação fica claro nos resultados de setembro. A queda no volume de vendas foi maior que a variação da receita, que recuou 0,2%, considerada estável pela pesquisa. Ou seja, apesar de vender bem menos, o valor movimentado foi praticamente o mesmo, um reflexo da alta dos preços. “As mercadorias subiram de preço. Em combustíveis e lubrificantes, por exemplo, a receita foi 0,1% menor, totalmente estável, e o volume caiu 2,6%. O mesmo vale para hiper e supermercados, que passa de aumento de 0,1% de receita para queda de 1,5% em volume”. Segundo o pesquisador, no caso de tecidos, por exemplo, houve queda em magnitude semelhante tanto das vendas quanto da receita, o que demostra, neste caso, uma redução da demanda. Mas o mesmo fator não se aplica a tecidos, vestuário e calçados, segmento que caiu tanto em volume, (-1,1%), quanto na receita, com queda ainda maior, sinalizando deflação gerada pela redução da demanda.
O volume de vendas do comércio varejista no país recuou 1,3% em setembro, na comparação com o mês anterior, segunda queda consecutiva, após a maior alta do ano em julho, quando cresceu 3,1%. No ano, o varejo acumula crescimento de 3,8% e, nos últimos 12 meses, alta de 3,9%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada hoje (11) pelo IBGE.
“Esse segundo mês de queda vem com intensidade razoável, mas em menor amplitude que agosto (-4,3%). Depois da grande baixa de abril do ano passado, início da pandemia, veio uma recuperação muito rápida que levou ao patamar recorde de outubro e novembro de 2020. Depois, tivemos uma primeira rebatida, com uma nova queda forte em dezembro e dois meses variando muito próximo do mesmo nível pré-pandemia, até março, mês a partir do qual houve nova trajetória de recuperação. Desde fevereiro de 2020, o setor vive muita volatilidade”, analisa o gerente da PMC, Cristiano Santos.
Na comparação com outras quedas ocorridas entre 2020 e 2021, o comportamento do comércio é diferente. Santos observa que enquanto as quedas de dezembro 2020 e janeiro 2021 deveram-se ao fim do auxílio emergencial; a recuperação a partir de março é explicada pela flexibilização das medidas de distanciamento social, com a maior abertura do comércio.
Comportamento
O IBGE aponta que, entre as oito atividades pesquisadas, seis tiveram taxas negativas em setembro. As quedas mais intensas foram em Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,6%), Móveis e eletrodomésticos (-3,5%), Combustíveis e lubrificantes (-2,6%). Mas a atividade de maior peso na formação da taxa de setembro foi Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,5%).
No comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, veículos e materiais de construção, o volume de vendas caiu 1,1% em setembro, frente a agosto. O impacto negativo veio da queda de 1,7% veículos, motos, partes e peças e de 1,1% em Material de construção, ambos, respectivamente, após alta de 0,3% e queda de 1,2% registrados em agosto.
As vendas tiveram variações negativas em 25 das 27 unidades da federação em setembro com destaque para: Mato Grosso do Sul (-3,9%), Santa Catarina (-3,6%) e Rio Grande do Norte (-3,4%).