O porcentual de famílias endividadas no país alcançou 62,2% em dezembro de 2017, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta sexta-feira pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O resultado ficou estável após cinco altas consecutivas.
Na comparação com dezembro de 2016, entretanto, houve alta de 3,2 pontos no porcentual de famílias endividadas.
Apesar da estabilidade, o patamar de endividamento ainda está entre os mais altos da série histórica da CNC, iniciada em 2010. “Ainda está em um nível muito elevado”, afirmou Bruno Fernandes, economista da CNC.
Estar endividado não representa necessariamente um problema, pois a dívida pode se referir a parcelamentos compatíveis com a capacidade de pagamento da família. O problema é quando o consumidor atrasada o pagamento da conta, ficando inadimplente.
A pesquisa da CNC mostra que a proporção das famílias com dívidas ou contas em atraso atingiu 25,8% em dezembro. Foi a terceira queda seguida. Na comparação com dezembro de 2016, houve alta de 1,7 ponto porcentual.
Segundo Fernandes, a expectativa é de melhora na capacidade de pagamento dos consumidores daqui para a frente. “Com a inflação comportada, recuperação do mercado de trabalho e melhora da renda e crédito, as famílias começam a trocar dívidas mais caras por outras mais baratas.”
Como controlar
O coordenador do PAS (Programa de Ajuda aos Superendividados), Diógenes Donizete Silva, diz que o endividamento é normal. “Todo mundo tem dívida. É preciso ter controle sobre a dívida para conseguir pagar as prestações em dia.”
O problema começa justamente quando o consumidor perde o controle e gasta mais do que consegue pagar. Para orientar o consumidor endividado sobre como reequilibrar a vida financeira, o Procon oferece o PAS desde 2012.
“Consideramos como superendividada a pessoa cujo pagamento das dívidas comprometem sua subsistência, como alimentação, saúde, educação, contas de consumo. Normalmente isso acontece quando as dívidas superam 30% da renda líquida”, afirma o coordenador do PAS.
Quando esse limite de 30% é ultrapassado, Donizete diz que é preciso ficar alerta. “O consumidor começa a entrar em uma situação de risco, muito suscetível ao descontrole.”
Ele diz que é comum acontecerem casos de aposentados que pegaram um empréstimo consignado – com desconto direito na aposentadoria -, se enrolaram e contraíram uma segunda dívida para quitar a primeira. Por isso, se não houver necessidade, é bom evitar empréstimos, principalmente aqueles com taxas de juros mais altas.
Para receber orientações do PAS é preciso morar no Estado de São Paulo. Para se inscrever basta preencher um cadastro no site do Procon (https://www.procon.sp.gov.br/categoria.asp?id=573).
Inadimplência
Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), diz que quase 40% da população entre 18 e 95 anos está inadimplente .
Segundo ela, 75% das dívidas têm mais de 1 ano. O número médio de dívidas é de 1,95 por pessoa – em 2015 eram 2,13 por pessoa. “Parece pouco, mas para virar uma bola de neve é muito fácil. Se deixar para pagar depois, a chance da dívida crescer é muito grande.”
A economista diz que a maioria dos inadimplentes cita o desemprego como razão da impontualidade do pagamento. “Uma investigação mais detalhada mostra que as pessoas poderiam evitar essa situação com maior planejamento dos gastos.”
Para ajudar o consumidor a limpar o nome, o SPC conta com o site Meu Bolso Feliz. “Ele mostra o caminho das pedras para a pessoa se recuperar e organizar seus pagamentos”, afirma Marcela.