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Memória: A palavra e a verdade

As despedidas em 2020 na literatura

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h38 - Publicado em 24 dez 2020, 06h00
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  • RUBEM FONSECA, escritor

    Rubem Fonseca
    (Fernando Pimentel/VEJA)

    “Realismo feroz”, eis o tipo de literatura praticada por Rubem Fonseca, mineiro de Juiz de Fora radicado no Rio de Janeiro que aprendeu a escrever nas noites de plantão na delegacia como policial. Tudo o que era humano, demasiadamente humano — a crueldade, o egoísmo, a amoralidade e o cinismo, mas também doses de altruísmo e honestidade —, servia de tema para seus contos e romances. O estilo cru, cortante como faca afiada, produziu alguns dos mais celebrados trabalhos em língua portuguesa. O primeiro romance foi O Caso Morel, de 1973. Com o segundo, A Grande Arte, de 1983, ganhou o Prêmio Jabuti. Recluso e avesso a entrevistas, Fonseca criou uma aura de mistério sobre si que só amplia a atração por sua obra. Entre seus grandes momentos estão os devastadores contos de Feliz Ano Novo (1975) — censurado no regime militar — e o ácido Agosto (1990), no qual iluminou o ninho de cobras que liga o mundo do crime à política, em torno do suicídio de Getúlio Vargas, adaptado com sucesso pela Globo em 1993. As histórias de seu personagem mais conhecido, o detetive Mandrake, foram transformadas em série pela HBO, exibida entre 2005 e 2007. Morreu em 15 de abril, aos 94 anos, de infarto, no Rio de Janeiro.

    SÉRGIO SANT’ANNA, escritor

    O carioca Sérgio Sant’Anna gostava de escrever, sem predileção especial por um gênero ou outro. Bebia de João Gilberto Noll, Dalton Trevisan e — Rubem Fonseca. Afeito à experimentação, jogava nas onze. Encaixava poesia com novela, conto com romance. “Não gosto da palavra contista”, disse certa vez. “Prefiro ser chamado de ficcionista, não quero ficar aprisionado a nada.” E nunca ficou. Lê-lo é como mergulhar nas entranhas do Brasil, em ambiente permanentemente erótico e irônico. Advogado de formação, Sant’Anna estreou na literatura com os contos de O Sobrevivente (1969). Refletia nos textos seus gostos e desgostos em relação à cultura e à política nacional — faceta que salta aos olhos no ótimo livro O Concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro (1983). Torcedor fanático do Fluminense, tinha particular apreço pelo futebol, pano de fundo de muitas tramas, como a novela Páginas sem Glória (2012). Morreu em 10 de maio, aos 78 anos, no Rio de Janeiro. Tinha Covid-19.

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    LUIZ ALFREDO GARCIA-ROZA, escritor

    Psicanalista de formação, o carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza começou tardiamente na literatura, aos 60 anos, com a novela O Silêncio da Chuva, publicada em 1996, obra que lhe rendeu o Prêmio Jabuti e apresentou ao mundo uma de suas criações mais conhecidas, o detetive Espinosa, homem culto e metódico. A figura era quase o oposto do Mandrake de Rubem Fonseca. Se para Fonseca tudo era realidade, a vida como um filme policial, nervoso, agitado, sempre nas madrugadas, para Garcia-Roza o que valia mesmo era a psicologia, o balé permanente entre o ego e o superego de seus personagens. Bebia, evidentemente, de suas referências pessoais ao lado do divã, levadas ao papel em estilo seco, conciso, sem gordura alguma. Garcia-Roza morreu em 16 de abril, aos 84 anos, no Rio, depois de sofrer um acidente vascular cerebral.

    Publicado em VEJA de 30 de dezembro de 2020, edição nº 2719

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