Ezra Miller se declara inocente – mas é um problemão para Hollywood
Em entrevista recente, a atriz Issa Rae disse que falta de consequências para as ações do ator refletem a realidade da indústria cinematográfica
Não é de hoje que Hollywood tem um problema com nome e sobrenome nas mãos: Ezra Miller. Nesta segunda-feira, 17, o ator se declarou inocente em um julgamento no estado americano de Vermont, no qual responde por invadir e roubar garrafas de bebida da casa de uma vizinha. Se condenado pelos crimes, Miller pode pegar até 26 anos de prisão, dando ainda mais dor de cabeça para grandalhões da indústria do cinema, já que integra franquias de destaque como The Flash e Animais Fantásticos.
Segundo a Variety, o caso teria acontecido no dia 1º de maio, quando Miller invadiu a residência vazia. Após investigações, a polícia local constatou o desaparecimento de uma série de garrafas de bebidas alcoólicas, totalizando 900 dólares. O ator já estampava as manchetes policiais desde 2020, quando foi flagrado em confusão num bar em que parecia enforcar uma fã. De lá para cá, foi preso algumas vezes por brigas e até assédio, no Havaí. Já recebeu ordens de restrição para ficar longe de adolescentes e foi acusado de abrigar uma mãe e seus filhos em um ambiente perigoso para crianças, com uso exacerbado de drogas e armas espalhadas pela casa.
A série de escândalos deu dor de cabeça não só para os advogados do ator, mas também para a equipe de relações públicas da Warner Bros. Discovery, que tem Miller em papéis importantes de duas de suas principais franquias – os filmes da DC Comics, incluindo The Flash, e Animais Fantásticos, série de filmes derivada de Harry Potter. Durante as gravações de The Flash, inclusive, o ator teria tido “colapsos frequentes” e estava “enlouquecendo”. Mesmo assim, o estúdio decidiu manter o filme em seu calendário, e uma fonte revelou à Variety que a equipe apoia a decisão de Miller de buscar ajuda profissional.
Em uma entrevista recente à revista Elle, a atriz Issa Rae, que assinou um contrato milionário com a Warner no ano passado, opinou sobre o caso dizendo que Miller representa um “microcosmo” de Hollywood, uma espécie de alegoria dos limites que a indústria é capaz de ultrapassar para defender seus infratores. “Há essa pessoa que é reincidente, que está se comportando de forma atroz e, ao contrário de desligá-lo e encerrar a produção, há um esforço para salvar o filme”, apontou ela. “É apenas um padrão constante de abuso que persistirá se Hollywood continuar insistindo em ser assim.”
A conivência na indústria cinematográfica com seus astros, especialmente com os homens brancos e poderosos, tem sido denunciada há anos. Quando o #MeToo estourou, em 2016, muitas mulheres apontaram que abusos como os de Harvey Weinstein eram tratados com naturalidade no meio, e que boa parte da indústria escolheu fechar os olhos e silenciar suas mulheres em nome da carreira e de bilheterias polpudas. “Hollywood é a pior indústria quando se trata de punir pessoas por más ações, porque o dinheiro sempre reinará supremo”, finalizou Rae.