Comício: o plano A (e o plano B) de Bolsonaro
O que mudou, o que não mudou e o que não vai mudar
De acordo com o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, 185 mil pessoas compareceram ao comício de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista.
É um mundo de gente.
Para quem tinha a esperança de que o 8 de janeiro (ou a reunião de 5 de julho, ou o roubo de joias, ou o que fosse) derrubasse a popularidade de Bolsonaro, foi uma ducha de água fria.
O ex-presidente continua com uma assombrosa capacidade de mobilização. E segue representando terrível ameaça à democracia brasileira. Isso não mudou. E não mudou porque não mudou a natureza do bolsonarismo, que continua dentro de uma bolha inexpugnável, imune ao oceano de provas que surgem a cada dia contra o líder.
Também não mudou a natureza dos políticos de direita que apoiam Bolsonaro, mas que tentam passar a imagem de “normais”. Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado, Ricardo Nunes continuam aceitando qualquer coisa em troca do endosso do ex-presidente. Inclusive o risco de ditadura. (Não há nada de normal nisso.)
Tampouco mudou a situação jurídica de Bolsonaro, metido até o pescoço em complicações penais.
O que mudou foi a atitude do ex-presidente. Radicalmente.
Durante seus quatro anos de mandato, no comício de 2021 em particular, a atitude de Bolsonaro foi a de desafio aos Poderes da República. De confronto. De ameaça permanente de ruptura institucional.
Agora, o que Bolsonaro quer é anistia.
Até outubro do ano passado, o plano A de Bolsonaro era vencer a eleição (o plano B era o golpe de Estado). Agora, o plano A é não ir para a cadeia.
É uma tradição brasileira: tenta o golpe (vai que dá): se conseguir, maravilha; se não conseguir, descola uma anistia e segue livre para tentar novo golpe mais tarde. A anistia aos golpistas do passado explica os golpistas do presente e garante os golpistas do futuro.
As perspectivas para o plano A são sombrias, por sinal: o Supremo se mostra determinado a punir exemplarmente os golpistas e o Congresso não demonstra qualquer vontade de contrariá-lo.
E não existe plano B.
(Por Ricardo Rangel em 26/02/2024)