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O besteirol de Greta Thunberg e dilemas da defesa ambiental

Como uma menina maluquinha, a adolescente sueca toca o terror milenarista e prejudica a causa ecológica ao dizer que já está tudo perdido - e ser aplaudida

Por Vilma Gryzinski 21 ago 2019, 08h39

Como um Messias de tranças – é sério, a comparação foi feita por um jornalista alemão -, Greta Thunberg está atravessando o Atlântico de veleiro para ir a duas cúpulas do clima em Nova York sem gerar emissões daninhas.

Esta seria a única parte boa da adolescente de 16 anos que se veste, ou é vestida, como uma menina de sete de várias décadas: pelo menos não é hipócrita como outras celebridades que cruzam o mundo de jatinho particular para arengar as massas sobre a emergência climática.

Infelizmente, apesar do valor promocional da viagem “limpa”, nem isso se salva (e é impossível que a travessia não deixe alguma pegada de carbono, como a própria tripulação reconheceu; marinheiros da equipe terão que ir de avião a Nova York para trazer o veleiro de volta).

Para preservar, salvar, regenerar e manejar nossas terras e nossas águas, a atitude “regressista” de abandonar os confortos do progresso e “voltar para a natureza” condenaria pelo menos algumas centenas de milhões de pessoas à morte.

Não existe agricultura orgânica que alimente 7,7 bilhões de pessoas, combustível limpo para que cozinhem e se aqueçam e economias que subsistam ao transporte por bicicleta – ou veleiros, mas estes são um pouco mais caros.

Isso não significa que não seja preciso, pelo menos transitoriamente, reduzir o uso de plásticos, racionalizar o lixo e tirar todas as porcarias que são largadas nas praias.

Por que transitoriamente? Porque as grandes soluções ambientais têm que vir de mais tecnologia, não menos.

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Inteligência artificial, computadores quânticos e cérebros humanos geniais são a esperança de energia limpa e barata e transportes não poluentes melhores ainda do que o conforto e a independência proporcionados pelos carros.

Por que não sacolas de “plástico” que, jogadas na terra, germinam no mínimo três árvores? Garrafas pet que viram rosas? Substitutos da carne mais deliciosos do que picanha com gordura e foie gras? Plantações de vegetais que evitam doenças e eliminam rugas?

OK, estamos exagerando um pouquinho. A ideia é que o mundo Mad Max vegano proposto por Greta e demais defensores do ecologismo chique não apresenta nenhuma solução razoável.

A menina sueca, filha de cantora de ópera e ator, ambos hábeis em efeitos cênicos demonstrados na maneira como “vendem” a filha – não vamos discutir aqui se ela foi encomendada ou não -, não tem nada de rebelde.

Tudo o que diz é repetido em salas de aula por professores bem intencionados em países europeus e outros. Na Inglaterra, diretores de escola mandam pregar a palavra “Rebelde” em paredes e camisetas.

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Que rebelião é essa que o sistema endossa, os milionários financiam, as celebridades propagandeiam e os príncipes defendem?

Detalhe: o dono do veleiro e um dos quatro companheiros de viagem de Greta é Pierre Casiraghi, filho da princesa Carolina de Mônaco.

Greta tem um fator deletério adicional. Vive dizendo que tudo está perdido, não adianta mais fazer nada e o fim está próximo, já entramos no ponto do não-retorno. Enfim, estamos ferrados.

É a mensagem tradicional dos milenaristas, os profetas do fim do mundo.

Gurus do apocalipse

Serve para assustar criancinhas, literalmente, e desfilar ao lado de políticos com cara de compungidos.

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Idosos saudosistas dos anos 60 também se encantam. 

Aliás, o movimento Extinction Rebellion, que vive atrapalhando o trânsito no centro de Londres (imaginem o aumento de emissões), manda recrutadores para todo o país, buscando pessoas mais velhas que se disponham a ser detidas nos protestos que não seguem os regulamentos. 

Chovem candidatos. Muitos querem ser mártires – sabendo, claro, que serão tratados por policiais ingleses, não chineses.

No último grande auê que fizeram em Londres, receberam o apoio de Emma Thompson. A atriz pegou um avião em Los Angeles, onde mora, e foi fazer bonito em Oxford Circus.

Reconheça-se que não era um jatinho particular, mas uma reles poltrona na primeira classe. A pegada de carbono pelo menos é menor.

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Raros são os políticos que se recusam a pegar carona na aura de santidade de Greta. Excepcionalmente, quando foi à Assembleia Nacional francesa passar o sermão habitual, os Republicanos, da direita tradicional, tomaram coragem e estrilaram.

“Para lutar inteligentemente contra o aquecimento climático, não precisamos de gurus apocalípticos, mas de progresso científico e de coragem política”, escreveu o deputado Guillaume Larrivé.

Com o mau humor habitual, o filósofo Michel Onfray disse que Greta tem “o rosto, a idade, o sexo e o corpo de um ciborgue do Terceiro Milênio: a embalagem é neutra. Que alma habita um corpo sem carne?”.

A falta de expressão, o ar irado, a fala robótica e o comportamento monotemático de Greta Thunberg, na verdade, são características possíveis da Síndrome de Asperger, um dos transtornos do autismo.

A própria adolescente já disse que a causa ecológica a tirou da incomunicabilidade profunda e de crises de depressão. Expressar pensamentos em público é um ótimo caminho para ela e outros jovens com Asperger.

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Greta deve ser respeitada e até admirada pela maneira como enfrenta a condição mental, mas esta não pode se transformar numa garantia de que esteja certa.

As questões ambientais são complexas, contraditórias e, agora, excessivamente politizadas. O engano mais comum é que a esquerda é ecológica e a direita quer tocar fogo em tudo.

O preservacionismo nasceu entre os muito ricos, especialmente os americanos. Na Europa, era o terreno, literal, da realeza, cujos direitos de caça mantiveram florestas relativamente intocadas no meio do mar de plantações que enche a barriga do povo.

A novidade, no momento, é falar no ecofascismo, um tipo de pensamento autoritário que descamba para a violência a pretexto da destruição do meio ambiente.

Os extremismos ideológicos atingem níveis de maluquice desenfreada, como demonstram dois casos recentes de violência em massa. 

Tanto o atirador que matou 51 pessoas numa mesquita na Nova Zelândia quanto o assassino que mirou mexicanos e fuzilou 22 vítimas no Texas reclamavam da superpopulação e da degradação ambiental.

Exatamente os temas dos ecologistas de esquerda que fazem vasectomia ou histerectomia para não correr o risco de ter filhos que acelerem o fim do mundo.

Não é uma boa ideia começar venerando árvores e terminar abominando bebês.

A tensão entre meio ambiente e seres humanos vai persistir enquanto existirem um e outros, pelo menos na formatação atual. Como viver e sobreviver com ela nos tempos atuais? 

Como incentivar o desenvolvimento e a criação de riquezas para os povos sem incendiar florestas? 

Como recuperar rios que viram esgotos e morros que viram fazendas, favelas ou condomínios?

Como cuidar do nosso planeta e sua prodigiosa variedade de vida, e ao mesmo tempo dele tirar nosso sustento e o das gerações vindouras?

Fanáticos, milenaristas e profetas do fim do mundo, mesmo com a aparência carismática de Greta Thunberg, não têm respostas nem remotamente válidas.

Aliás, dizer que já está tudo perdido não só é uma resposta inválida, como prejudicial. Dá vontade de se trancar num buraco e só sair quando a maldita raça humana tiver acabado.

É isso que nós queremos?

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