A entrevista do presidente Jair Bolsonaro a uma rádio do Rio Grande do Sul nesta terça, 2, se tornou espaço para mais uma acusação leviana contra o ministro Alexandre de Moraes. Não satisfeito, o mandatário ainda acusou um dos colegas de toga de Moraes, Luis Roberto Barroso, de cometer um crime e fez uma crítica direta a Luiz Fux, o presidente da mais alta corte do país.
Bolsonaro disse que Alexandre de Moraes está “fazendo tudo de errado” no inquérito sobre a quebra de sigilo na apuração do ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O mandatário pode ter a opinião que quiser sobre o ministro do STF, mas não pode ultrapassar determinadas barreiras éticas e desrespeitar a própria presidência da República (sim, eu sei: Bolsonaro já fez isso inúmeras vezes).
Para o chefe do Executivo, Alexandre de Moraes está “jogando a rede” ao investigar seu ajudante de ordens para “ver o que vem e me acusar pelo que tiver lá”. A mania de perseguição do presidente não tem fim.
Tirando a acusação leviana, esse é mais um capítulo na tentativa de Bolsonaro de transformar Moraes no inimigo número um do governo.
A atitude é radical e perigosa, mas faz parte de sua estratégia: no dia 16 de agosto, Moraes assume o comando da Justiça Eleitoral em meio à disputa que já extrapolou o que se chama de polarização política.
Transformar um presidente do TSE em inimigo é uma atitude irresponsável e mostra todo o radicalismo do bolsonarismo. Traduzindo, o presidente está querendo dizer que Alexandre de Moraes transformou a toga que veste em bandeira política.
Fez o mesmo na entrevista em relação ao ministro Barroso.
“Interferência política é crime previsto na Constituição. O Barroso é um criminoso […] depois ele vai para o Reino Unido falando que queriam ressuscitar o voto de papel como antigamente. Barroso, você é um mentiroso, um mentiroso”, acusou o presidente, relacionando o ministro à derrota que sofreu no Congresso com a PEC do voto impresso.
Alguém precisa lembrar Bolsonaro que seu aliado de todas as horas – o presidente da Câmara, Arthur Lira – garantiu, em agosto de 2021, que presidente da República ia respeitar a decisão da Casa. “É a decisão mais acertada [levar para o Plenário] e Bolsonaro me garantiu que respeitaria o resultado do Plenário. Eu confio na palavra do presidente da República ao presidente da Câmara”.
Estamos vendo o quanto vale a palavra de Bolsonaro.
Sobre Fux, disse que o presidente do STF equivocou-se ao defender as urnas eletrônicas. “Respeito o Fux, de vez em quando trocamos algumas palavras. Ele é chefe de Poder. Mas, no mínimo, para ser educado, [a fala foi] equivocada. Ou fake news”, disse à Rádio Guaíba.
Como a coluna já mostrou em outras situações, Bolsonaro usa sempre essa estratégia de tentar tirar a credibilidade e levantar dúvidas sobre o trabalho daqueles que vão contra os seus pensamentos.
Fux, Barroso e Moraes têm força para resistir aos ataques. Mas, quando este último se sentar na principal cadeira do TSE, certamente estará consciente de que as ofensas vão piorar. São as experiências que ele vem adquirindo ao longo do tempo que o ajudarão a cumprir sua missão. E, frise-se, constitucional.