O novo festival literário do país – a Fliparacatu – começa nesta semana com uma impressionante programação nacional e internacional. Nela, Mia Couto, o consagrado escritor moçambicano, será um dos homenageados. Mas há outros nomes importantíssimos.
Conceição Evaristo, linguista e escritora negra ícone da literatura brasileira, será homenageada ao lado de Mia Couto, assim como o romancista Afonso Arinos (1868-1916), patrono do festival, que foi membro da Academia Brasileira de Letras e nasceu em Paracatu.
A cidade, aliás, não é muito reconhecida como cidade histórica, o que é uma injustiça. São 600 prédios tombados, muitos recantos e uma tradição que vai até os anos 1800, quando ela virou comarca, e capital de um território que incluía outras cidades como Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
Paracatu tem cinco quilombos que ainda preservam sua cultura – dois deles autossustentáveis. Aliás, a população da cidade é 80% negra, bem acima da média nacional que é de 56% de pretos e pardos. Um dos destaques do evento é a exposição inédita “Portinari Negro”, com curadoria de João Candido Portinari.
A Fliparacatu é mais um exemplo de festival literário no interior do Brasil, extremamente saudável para a cultura local. Esses encontros têm efeito comprovado na formação de novos leitores, que se espalha até as capitais – impulsionando o mercado editorial. Fliaraxá está na 11ª edição regida sempre pelo mestre Afonso Borges, do tradicional “Sempre um papo”. A Flitabira na 2ª, com a presença marcante de Pedro Drummond, neto de Carlos Drummond de Andrade.
Tem ainda Flipelô, na Bahia, e a Fenagreste, em Pernambuco.
Para além da programação oficial dos eventos, as edições realizadas por Afonso Borges sempre reconhecem talentos locais, adicionando como tempero especial o concurso literário nas escolas. As crianças são estimuladas não só a ler, como também a escrever, e vão convivendo com autores e a literatura, normalizando essa relação. Esses eventos dão capilaridade à cultura literária somando aos grandes eventos bianuais, trazendo o espalhamento dos livros pelo Brasil.
Em meio a essa explosão de cultura, outro nome que fará parte do esperado festival em Paracatu é o do poeta moçambicano Amosse Mucavele, vencedor da primeira edição da Residência Literária em Lisboa. A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, também está na lista de palestrantes da Fliparacatu, assim como as autoras indígenas Márcia Kambeba e Trudruá Dorrico.
Confira abaixo os autores que estarão na Fliparacatu, ou a programação completa que pode ser lida aqui: Adriana Abujamra, Albery Albuquerque, Amosse Mucavele, Bianca Santana, Calila das Mercês, Cármen Lúcia, Conceição Evaristo, Danilo Miranda, Eduardo Góis Neves, Eliana Alves Cruz, Itamar Vieira Junior, Jeferson Tenório, Joana Silva, João Candido Portinari, José-Manuel Diogo, Jamil Chade, Juliana Monteiro, Kakay, Lívia Sant’Anna Vaz, Luana Tolentino, Luíza Romão, Márcia Kambeba, Marco Haurélio, Matheus Leitão, Mia Couto, Míriam Leitão, Nádia Gotlib, Paloma Jorge Amado, Paulliny Tort, Paulo Scott, Pedro Pacífico, Rafael Nolli, Renato Noguera, Ricardo Prado, Ricardo Ramos Filho, Rogério Robalinho, Sérgio Abranches, Silvana Gontijo, Simone Paulino, Socorro Acioli, Taiasmin Ohnmacht, Tino Freitas, Thiago Albuquerque, Tom Farias e Trudruá Dorrico e Zeca Camargo.
A curadoria é partilhada entre o próprio Afonso, além de Sérgio Abranches e Tom Farias.
PS – O titular da coluna – este que vos escreve, querido leitor – também estará presente. Na sexta, 25, ao lado de Adriana Abujamra, falando sobre “O jornalismo como ferramenta de memória”, na Igreja Nossa Senhora do Rosário. No domingo, 27, com o mestre Afonso Borges, debatendo sobre o “Jornalismo na primeira pessoa como forma literária”, no Centro Pastoral São Benedito. Nos vemos lá (emoji de coração).