A entrevista concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), à Globonews nesta terça, 29, traz duas novas indiretas importantes tanto para o presidente Jair Bolsonaro como para os seguidores extremistas que se manifestam em frente aos quarteis – inconformados com a vitória de Lula nas eleições.
Questionado sobre as narrativas falsas que têm ganhado força nos últimos meses, o ministro foi enfático: “Mentir precisa voltar a ser errado. Existe uma fagulha divina na verdade, na sinceridade, na integridade. E algumas pessoas que falam muito em Deus precisam relembrar isso”, disse Barroso.
O ministro tem razão. Falar em Deus e mentir são duas posturas contraditórias. A declaração atinge em cheio muitos bolsonaristas evangélicos – incluindo pastores – que insistem em espalhar mentiras e que intensificaram essa conduta na época das eleições para prejudicar Lula.
A fala também atinge diretamente o próprio Bolsonaro, que já mentiu inclusive sobre Barroso. Em julho de 2021, numa atitude criminosa, o presidente insinuou que Barroso defende a pedofilia.
“Ministro esse que defende a redução da maioridade para estupro de vulnerável, ou seja, a pedofilia é o que ele defende. Ministro que defende a legalidade das drogas. Com essas bandeiras todas, ele não devia estar no Supremo. Devia estar no Parlamento. Lá é o local de cada um defender a sua bandeira“, afirmou Bolsonaro de forma leviana.
Outra postura contraditória é falar em Deus e ofender aqueles que pensam diferente. Bolsonaro, que adora repetir o mantra “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” foge dos ensinamentos cristãos ao atacar quem não concorda com suas ideias. O presidente faz isso e estimula seus seguidores a fazerem também.
Em outra indireta ao bolsonarismo, o ministro Barroso critica os pedidos de golpe.
“E nós já superamos os ciclos do atraso e eu espero que uma luz espiritual possa iluminar essas pessoas e fazer com que elas voltem à realidade e cessem as agressões, as violências e os pedidos de golpe. Não é assim que funciona a democracia”, destacou.
É verdade, ministro. Não é assim que funciona a democracia. Os pedidos de intervenção das Forças Armadas e de fechamento do STF – escritos em cartazes de manifestantes que não aceitam a derrota de Bolsonaro – são absurdos, criminosos e ofendem a democracia.
Barroso e outros ministros do STF têm sido alvos de ataques há meses. Nos últimos dias, esses ataques pioraram. Talvez seja por isso que o ministro peça por uma ajuda “divina”. Só Deus mesmo para trazer clareza aos extremistas e mostrar que o comportamento cristão envolve tolerância, respeito, domínio próprio e moderação.