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José Casado

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Informação e análise
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Para defender o clã, Bolsonaro desestabilizou a Polícia Federal

Em ofensiva permanente como método de defesa, presidente pode ter atingido a PF no que é mais relevante a um organismo de Estado: a neutralidade política

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 dez 2021, 08h00
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  • Há oito meses, o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, e seu chefe imediato, Anderson Torres, delegado federal e ministro da Justiça, insistem negar interferência indevida de Jair Bolsonaro no rumo dos inquéritos que possam afetar seu interesse ou de sua parentela.

    Discursar sobre a independência é inútil, porque sobram indícios em investigações em curso, determinadas pelo Supremo Tribunal Federal, para apurar se houve, ou não, intervenção delituosa de Bolsonaro na polícia.

    Ingerências sempre ocorrem de maneira sutil, sem papel timbrado e assinado. O melhor flagrante, até agora, foi produzido pela própria Presidência da República. Está no vídeo da reunião ministerial de 22 de abril do ano passado, um registro histórico do pandemônio político no Palácio do Planalto, cuja melhor tradução foi feita à época pelo bem-humorado vice-presidente Hamilton Mourão: “Está tudo sob controle… só não se sabe de quem.”

    Nele, o presidente olha para o então ministro da Justiça, Sergio Moro, cita a PF, anuncia mudanças no comando da “segurança no Rio” e se justifica, irado: “É putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família só de sacanagem, ou amigos meus.”

    O vídeo atesta que Bolsonaro já perdera a capacidade de governança. Naqueles dias já se dedicava à construção de uma linha de defesa no Congresso, onde se acumulavam três dezenas de pedidos de impeachment.

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    Dois dias depois da reunião, teve a alegria matinal da demissão do ministro Moro e, à tarde, entregou o controle Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) ao Partido Liberal de Valdemar Costa Neto. Aproximava-se do Centrão, oferecendo fatias do governo em troca de 172 votos na Câmara — a garantia de imunidade.

    O governo passou ao “modo defesa” e a Polícia Federal entrou numa instabilidade sem precedentes. Está no terceiro diretor-geral em 19 meses, nos quais ficou claro que acabou a relativa autonomia até então existente. Cada mudança no comando central resulta em troca das chefias imediatas (já foram duas dezenas), nas superintendências regionais e respectivas equipes.

    A corporação de 12 mil agentes se juntou, em março passado, aos protestos promovidos por policiais civis e militares contra o “congelamento” salarial no serviço público.

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    Na época, uma pesquisa realizada pelo instituto Atlas deu a dimensão da corrosão do apoio interno ao governo: 61% dos policiais federais entrevistados declararam ter votado em Bolsonaro no segundo turno eleitoral, em 2018, e, 38% deles se diziam arrependidos.

    Nesse terreno corporativo instável avançam as investigações sobre o clã Bolsonaro e que deixam o presidente insone, em plena campanha pela reeleição.

    Vai ser difícil provar judicialmente a interferência do presidente, mas sobram indícios de que ela se ocorreu, de maneira sutil, nas instâncias burocráticas do Ministério da Justiça.

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    E, também, no apoio visível a iniciativas legislativas do Centrão, com aval explícito de parte da oposição, que liquidaram com aspectos relevantes da imunidade dos investigadores em casos de corrupção— foi o caso das leis sobre abuso de autoridade e a improbidade administrativa.

    Em ofensiva permanente como método de defesa, Bolsonaro parece ter atingido a Polícia Federal naquilo que é mais relevante a um organismo de Estado: a neutralidade política.

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