A escalada dos preços do petróleo pressiona Jair Bolsonaro a acelerar planos para proteger a atividade econômica e, na medida do possível, mitigar a inflação durante o ano eleitoral.
O governo ainda não conseguiu definir o rumo na crise, mas já decidiu que, em qualquer cenário, vale a bússola da campanha de reeleição.
A partir desta semana abre uma caixa de R$ 150 bilhões de “surpresas” para os eleitores.
Planeja divulgar, alternadamente, uma série de medidas tópicas, mas com potencial de repercussão favorável à candidatura de Bolsonaro em segmentos específicos do eleitorado.
É o caso da linha de crédito especial para mulheres empreendedoras, cujo anúncio está previsto para amanhã.
Será divulgado, também, um plano de expansão da produção doméstica de fertilizantes. Na essência, será uma carta de intenções, bem articulada mas dependente de uma série de mudanças em leis, algumas polêmicas, com reflexos até na demarcação de terras indígenas. Nesse caso, as principais decisões legislativas ficam para o próximo Congresso.
Permanece a indefinição sobre como o país agora vai lidar com os riscos de descontrole da inflação e, eventualmente, de desabastecimento de alguns produtos em consequência do desarranjo da economia mundial provocado pela guerra expansionista de Vladimir Putin na Ucrânia.
A indecisão é efeito da ressaca da visita de Bolsonaro a Vladimir Putin, no mês passado.
Ele foi a Moscou com a certeza de que a Rússia não invadiria a Ucrânia, crença reforçada pelas informações que recebeu na época do Itamaraty e do Ministério da Defesa, apesar dos reiterados avisos públicos dos Estados Unidos e da União Europeia sobre a iminência da invasão.
Voltou ao Brasil exalando confiança. Aparentemente, Putin deixou Bolsonaro se convencer de que não atravessaria a fronteira ucraniana, e muito menos iria à guerra.
Quando aconteceu, dez dias depois, o preço do petróleo beirava 90 dólares (R$ 450) por barril (tipo Brent). Ontem passou de 139 dólares (R$ 695). Foi um aumento expressivo (64,7%) em uma dúzia de dias.
É reflexo das sanções econômicas aplicadas à Rússia. Putin ainda não tomou Kiev, mas já perdeu o seu Banco Central, desconectado do sistema financeiro mundial e imobilizado em solo russo, pelo virtual confisco das reservas depositadas no exterior.
Sanções são uma forma de guerra. Nesse caso, aplicadas em escala inédita e de forma abrangente, para fazer derreter a economia russa.
No Brasil, as sequelas já se espraiam. São inevitáveis aumentos nos preços da gasolina, diesel, gás de cozinha e dos alimentos, com destaque para os derivados de trigo e milho. Existe, também, risco de escassez de fertilizantes — o governo diz que o estoque nacional dá para seis meses de consumo, mas produtores calculam em três meses.
Paradoxalmente, é provável que a agonia econômica com a escalada dos preços do petróleo resulte numa oportunidade de aproximação do governo Bolsonaro, em plena campanha eleitoral, com a Casa Branca de Joe Biden.
O óleo sobe na esteira da pressão política dentro dos EUA e da Europa para boicote às importações da Rússia, fonte da maior parte da energia consumida em alguns países europeus. E o governo Biden, que enfrenta uma campanha dura para as eleições legislativas, em novembro, começou a negociar com diferentes países produtores um aumento na oferta global de petróleo.
Na América do Sul, funcionários americanos passaram o fim de semana em Caracas conversando com o ditador Nicolás Maduro sobre a eventual retomada das exportações de petróleo pesado para refinarias americanas instaladas no México.
No Brasil, diplomatas e executivos de empresas privadas de petróleo dos EUA e da Europa começaram a sondar possibilidades de entendimentos com o governo e com a Petrobras. No governo há quem vislumbre uma chance.