Maio marca o início da preparação para a temporada de seca na Amazônia, que segue até outubro. Neste ano, as empreitadas para derrubada de árvores começaram mais cedo, demonstram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): sem controle, o desmatamento foi recorde entre março e abril – 42% maior no mês passado, em comparação a 2020.
Com o desmonte das atividades de fiscalização ambiental, uma das consequências previsíveis é um aumento da pressão dos Estados Unidos e da Europa sobre o governo Jair Bolsonaro no segundo semestre.
O desmate na Amazônia aparenta ser desorganizado, mas é negócio bilionário, estruturado, e em geral atrelado a crimes ambientais e fundiários, contrabando, tráfico e lavagem de dinheiro. Funciona como uma espécie de contêiner de boa parte dos delitos previstos no Código Penal.
Na Amazônia, as ações têm como alvo primário terras estatais e áreas indígenas, protegidas no papel. As invasões começam com madeireiros seus tratores, motosserras e caminhões derrubando as árvores eleitas pelo maior valor de comercialização.
Na sequência, incendeia-se todo o terreno escolhido, semeia-se capim na preparação da área para pastagem, com zonas de cultivo. Abrem-se lotes para venda fatiada, com algumas casas ou mesmo vilas.
Assim, tem-se a posse legal o que garante o início de uma batalha jurídica por direitos de propriedade sobre terras públicas ou mesmo territórios indígenas. Os lucros são garantidos em todas as etapas.
Na Câmara, se prevê para esta semana a votação de novas normas para emissão de licenças ambientais aplicáveis em todo o país. Para a região amazônica representa nova tentativa de regularizar – e limitar – um negócio responsável por gerações de milionários do desmate e da grilagem de terras, com lucros lavados e legalizados.
A alta rentabilidade tem proteção política, com repercussão direta em Brasília. O histórico é amplo. Em Lábrea, a quase 900 km de Manaus, há registro de casos em que uma única grilagem de terras alavancou a posse de uma área três vezes maior que a cidade de São Paulo.
O avanço do desmatamento começa a apresentar consequências sanitárias para populações urbanas, com impacto financeiro direto nos orçamentos de saúde.
Com base em dados do DataSUS, do governo federal, a Fiocruz e o WWF-Brasil confirmaram: nos últimos dez anos as queimadas na Amazônia foram responsáveis pelo aumento nas internações hospitalares por problemas respiratórios no Amazonas (87%), Pará (70%), Mato Grosso, Rondônia e Acre (mais de 60%).
O portal Plurale, especializado em meio ambiente, estima que o tratamento dos doentes tenha representado gastos adicionais de R$ 1 bilhão para o sistema público de saúde durante a última década.